O título desta crónica foi
importado de uma das grandes obras de Erico Veríssimo que, aproveitando a
temática das Guerras do século XIX travadas pelo jovem Estado do Brasil com os
seus jovens vizinhos, reflete sobre, apesar do fervor emergente saído das
gargantas do Ipiranga ou dos credos bolivarianos, muita coisa de velho fica nos
homens.
Já os romanos diziam que “Labitur
exiguo quod partum est tempore longo”, mostrando que a memória é curta para o longo esforço. Assim como uma árvore
que depressa perece abatida após um longo período de
crescimento, também a memória do que fica para trás tende a diluir-se perante
os desafios do presente prioritário.
No entanto, marca de que a
saudade portuguesa não se encurta com a distância geográfica é a continuidade
do valor das remessas dos emigrantes que os portugueses têm enviado
persistentemente para as famílias que ficam. Se antes as remessas dos
emigrantes na França, na Alemanha e no Luxemburgo eram as remessas mais
significativas, encontramos agora Angola, o Brasil, ou a Inglaterra nas origens
destes fluxos unilaterais que são relevantes para equilibrar os desequilíbrios
internos (excesso de consumo sobre a poupança) e os desequilíbrios externos
(saldos comerciais negativos, com repercussão clara na Balança de Transações
Correntes).
Estudei estes fluxos no artigo
“Income inequality in host countries and remittances: a discussion of the
determinants of Portuguese emigrants’ remittances"; a ser publicado
neste ano de 2016 na revista científica “International Migration”. Adicionalmente,
coloquei um foco especial na evolução do padrão de desigualdade de rendimentos
nos países onde os nossos emigrantes são acolhidos. Na realidade, quis testar
se o aumento da desigualdade, por exemplo na França ou na Alemanha, tendendo a
tornar as condições de vida piores para os nossos emigrantes, tem implicações
nos montantes enviados para Portugal.
Antecipando a complexidade da
avaliação empírica associada, a resposta é sim. Desequilíbrios maiores na
distribuição dos rendimentos nos países de acolhimento diminuem o montante
enviado pelos nossos emigrantes para Portugal, com repercussões imediatas no
investimento induzido, no consumo estimulado, no défice de transações correntes
e, finalmente, nas nossas próprias condições de vida.
Assim, a Política Europeia em
matéria laboral e de fluxos migratórios não pode negligenciar estes impactos.
Como num efeito-dominó, o que de bom ou mau acontece num parceiro comunitário
reflete-se sempre nas nossas condições de vida. Com retroação futura.
Assim, numa altura em que o
Projeto Europeu, anestesiado pela ilusão do mundo desportivo que tem o condão
de parecer reunir as nações numa atenção comum, enfrenta desafios em catadupa e
que ameaçam atingir proporções que a atual condução da Política Orçamental dos
Estados, a fragilidade monetária da Zona Euro e, finalmente, a indefinição face
ao drama das novas migrações colocam estes Verão e Outono em pressões que
exigirão muita prudência a todos os atores internacionais e muitas provisões
que os políticos nacionais devem realizar. La Fontaine recordou-nos como a
formiga – um símbolo real do emigrante Português -soube preparar o inverno…