terça-feira, 18 de outubro de 2016

Orçamento de Estado, Lei de Say e Célebres Equações



De acordo com a Lei de Say, a oferta, por si só, gera a procura: a "production" abre os "débouchés". A imagem de Say é uma das imagens preferida pelos defensores de que a Economia só se mexe devido ao lado da Produção - Produzes, Ganhas, Distribuis, Investes, Produzes, Ganhas, etc: essa é a lógica da "Oferta cria a própria Procura". Imaginem um trabalhador que se esforçou/trabalhou e que é remunerado no final do dia. Com esse pagamento, ele vai poder pagar bens de consumo (alimentos, roupas, etc) que eventualmente terá ele próprio produzido ao longo do dia numa fábrica. Keynes inverteu o "passo inicial" - referia que inicialmente o trabalhador tem de receber o dinheiro para no dia seguinte (ter vontade de) trabalhar e assim dinamizar a economia.

Mas, para iniciar esse ciclo virtuoso ‘a la Say’, é preciso que alguém invista para haver produção e tem de haver expectativas de procura dos bens que são produzidos. O que Say parece estar a dizer é que basta produzir para que se gere procura. Mas a procura implica poder de compra. Será realista supor que basta haver oferta, e que a procura surgirá por si só, graças à remuneração que acompanhar a produção dos bens?

O chavão de Say tem vários pressupostos: acumulação razoável de recursos à partida, poder de compra crescente, ausência de 'leakages'/fugas de capital para outros espaços, eficiência do setor bancário e preferência por consumir os “produtos da casa”, etc Para as economias com problemas de acumulação, Say é (ainda hoje) uma parábola/exagero.

Quando se fala em défice público, significa que as despesas das figuras públicas ultrapassam as respetivas receitas. Desde há 200 anos, que se percebe como os défices interagem com as poupanças dos particulares e com os défices externos. Na questão da "regra de ouro orçamental" existe uma equação subjacente:

Poupança particular - Investimento particular = Défice Público + Saldo Corrente com o Exterior

Logo, só conseguimos manter défices públicos se o privado poupar ou se o saldo corrente com o exterior ajudar (isto é importar sobretudo investimento direto do exterior). Portanto, alguém tem de financiar. A menos que se verifique o “Paradoxo do Scrooge (de Dickens)”: o paradoxo de quem poupa para a velhice e não chega a velho... o que faz com que alguém usufrua/herde do seu sacrifício-poupança.

Ao discutirmos o Orçamento de Estado, algo intrinsecamente civilizacional e revelador dos nossos ideais, sonhos e preconceitos, estamos a viver os momentos ideais para perceber o legado de Civilização que deixaremos a quem nos olha a partir do Amanhã. Que é mais importante do que as miopias de quem (nos) olha de lado.