De acordo com a Lei de Say, a oferta, por
si só, gera a procura: a "production" abre os "débouchés". A
imagem de Say é uma das imagens preferida pelos defensores de que a Economia só
se mexe devido ao lado da Produção - Produzes, Ganhas, Distribuis, Investes,
Produzes, Ganhas, etc: essa é a lógica da "Oferta cria a própria
Procura". Imaginem um trabalhador que se esforçou/trabalhou e que é
remunerado no final do dia. Com esse pagamento, ele vai poder pagar bens de
consumo (alimentos, roupas, etc) que eventualmente terá ele próprio produzido
ao longo do dia numa fábrica. Keynes inverteu o "passo inicial" -
referia que inicialmente o trabalhador tem de receber o dinheiro para no dia
seguinte (ter vontade de) trabalhar e assim dinamizar a economia.
Mas, para iniciar esse ciclo virtuoso ‘a
la Say’, é preciso que alguém invista para haver produção e tem de haver
expectativas de procura dos bens que são produzidos. O que Say parece estar a
dizer é que basta produzir para que se gere procura. Mas a procura implica
poder de compra. Será realista supor que basta haver oferta, e que a procura
surgirá por si só, graças à remuneração que acompanhar a produção dos bens?
O chavão de Say tem vários pressupostos:
acumulação razoável de recursos à partida, poder de compra crescente, ausência
de 'leakages'/fugas de capital para outros espaços, eficiência do setor
bancário e preferência por consumir os “produtos da casa”, etc Para as
economias com problemas de acumulação, Say é (ainda hoje) uma parábola/exagero.
Quando se fala em défice público, significa que as
despesas das figuras públicas ultrapassam as respetivas receitas. Desde há 200
anos, que se percebe como os défices interagem com as poupanças dos
particulares e com os défices externos. Na questão da "regra de ouro
orçamental" existe uma equação subjacente:
Poupança particular - Investimento
particular = Défice Público + Saldo Corrente com o Exterior
Logo, só conseguimos manter défices públicos se o privado poupar ou se o saldo corrente com o exterior ajudar (isto é importar sobretudo investimento direto do exterior). Portanto, alguém tem de financiar. A menos que se verifique o “Paradoxo do Scrooge (de Dickens)”: o paradoxo de quem poupa para a velhice e não chega a velho... o que faz com que alguém usufrua/herde do seu sacrifício-poupança.
Logo, só conseguimos manter défices públicos se o privado poupar ou se o saldo corrente com o exterior ajudar (isto é importar sobretudo investimento direto do exterior). Portanto, alguém tem de financiar. A menos que se verifique o “Paradoxo do Scrooge (de Dickens)”: o paradoxo de quem poupa para a velhice e não chega a velho... o que faz com que alguém usufrua/herde do seu sacrifício-poupança.
Ao discutirmos o Orçamento de Estado,
algo intrinsecamente civilizacional e revelador dos nossos ideais, sonhos e
preconceitos, estamos a viver os momentos ideais para perceber o legado de
Civilização que deixaremos a quem nos olha a partir do Amanhã. Que é mais
importante do que as miopias de quem (nos) olha de lado.