Paulo Reis Mourão
(Professor do Departamento de Economia da Universidade do
Minho)
Donald Trump ganhou as eleições presidenciais dos Estados
Unidos da América de 2016. A surpresa generalizada para quem está do outro lado
das fronteiras norte-americanas traz uma maior imprevisibilidade aos mercados
bolsistas e financeiros, aos cenários macroeconómicos mundiais e ao comércio
internacional. Pelo menos, no curto prazo. De qualquer modo, podemos delinear
os desafios económicos da Administração Trump em duas dinâmicas: a dinâmica da
convergência com a linha programática enunciada na campanha e a dinâmica dos
desafios emergentes.
Em termos programáticos, a Economia segundo Trump teve três
grandes capítulos: a dinamização orçamental, a revisão das pautas aduaneiras e
a política laboral. Além do reforço da despesa pública eminentemente na Defesa
(prometendo atingir o dobro dos atuais 3% do Produto Nacional Bruto) a custa de
uma reforma educativa (inclusive em matéria de Executivo), Trump prometeu uma
redução da carga fiscal para todos bem como uma simplificação dos escalões dos
impostos sobre o rendimento. Foram perspetivadas mexidas numa gama alargada de
instrumentos fiscais – nomeadamente, nos impostos sucessórios e nos impostos
sobre o rendimento das empresas dos 38% para os 15% – assim como numa revisão dos benefícios
fiscais, nomeadamente para o trabalho doméstico e de assistência. A revisão das
pautas aduaneiras – um dos ‘cavalos de batalha’ de um populismo eleitoralista
vincado no candidato Republicano – incidiria sobretudo nas relações com os
vizinhos latino-americanos (especialmente, o México) e com um concorrente
direto, a China. Algumas das linhas mais claras da propaganda de Trump em
termos de Política de dinamização laboral focaram-se nos efeitos da baixa de
impostos combinados com desregulação laboral, visando a dinamização dos
negócios norte-americanos e da aposta nas infra-estruturas.
No entanto, qualquer destas
propostas, ainda mais embrulhadas num discurso político que caiu na hipérbole e
no disfemismo na campanha eleitoral que antecedeu as eleições presidenciais de
2016, vai chocar numa realidade caraterizada por três grandes desafios.
A melhoria do défice
orçamental pode não coincidir com os efeitos esperados na balança comercial, criando
um hiato na poupança interna. As pautas aduaneiras revistas podem motivar
políticas neo-mercantilistas/protecionistas que, em efeito boomerang,
encarecerão os ‘devices’ mexicanos importados, por exemplo, e dificultarão a
penetração dos negócios norte-americanos nos parceiros tarifados. Finalmente, o
relançamento da indústria norte-americana com uma clara aposta nacionalista, de
política industrial de substituição das importações e de substituição da
mão-de-obra estrangeira pode não ser suficiente para manter postos de trabalhos
qualificados, que poderão migrar para espaços como o Canadá ou para alguns
países europeus. E se as coisas correm pior? Trump tem uma resposta imprópria para economistas: “U.S. Will Never
Default Because You Print the Money," CNN, May 10, 2016. As lições
da Grande Depressão já não fazem sentido para Trump e os seus conselheiros? Ou
poesia eleitoralista?
Quais as consequências
previsíveis destes cenários de Política Económica para Portugal? A
concretizar-se a penalização de determinado capital humano imigrante nos EUA
com a tendência de manutenção de um dólar forte, poderíamos esperar uma ‘fuga’
de investimento em bens transacionáveis para offshores e alguns dos rendimentos
para a Europa, influenciando o Investimento Direto Estrangeiro recebido/desviado
para o nosso país. Em contrapartida, as mexidas propostas no mercado laboral
norte-americano podem gerar incentivos para uma aceleração de reformas em todos
os pilares do Estado Social europeu, desde os direitos laborais até aos
salários mínimos em vigor, passando pelos setores da Saúde e da Educação. No
entanto, em não raros momentos, as Administrações Republicanas dificultaram
mais o papel dos Governos de Direita europeus do que os ajudaram nas agendas
internas. Bem como a tibieza com que a dupla Hillary-Trump se pronunciou sobre
a Europa foi entendida sempre como uma certa ‘desvalorização’ do Velho
Continente imerso em taxas de crescimento tímidas, em dossiers de cisão
comunitária e debaixo do ‘bullying’ diplomático de Leste e do drama dos
refugiados do Mediterrâneo. Uma coisa é certa – não esperem ‘steady states’ com
Mr Trump.
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