domingo, 13 de novembro de 2016

Trump – a Economia dos Slogans



Paulo Reis Mourão
(Professor do Departamento de Economia da Universidade do Minho)


Donald Trump ganhou as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América de 2016. A surpresa generalizada para quem está do outro lado das fronteiras norte-americanas traz uma maior imprevisibilidade aos mercados bolsistas e financeiros, aos cenários macroeconómicos mundiais e ao comércio internacional. Pelo menos, no curto prazo. De qualquer modo, podemos delinear os desafios económicos da Administração Trump em duas dinâmicas: a dinâmica da convergência com a linha programática enunciada na campanha e a dinâmica dos desafios emergentes.
Em termos programáticos, a Economia segundo Trump teve três grandes capítulos: a dinamização orçamental, a revisão das pautas aduaneiras e a política laboral. Além do reforço da despesa pública eminentemente na Defesa (prometendo atingir o dobro dos atuais 3% do Produto Nacional Bruto) a custa de uma reforma educativa (inclusive em matéria de Executivo), Trump prometeu uma redução da carga fiscal para todos bem como uma simplificação dos escalões dos impostos sobre o rendimento. Foram perspetivadas mexidas numa gama alargada de instrumentos fiscais – nomeadamente, nos impostos sucessórios e nos impostos sobre o rendimento das empresas dos 38% para os 15%  – assim como numa revisão dos benefícios fiscais, nomeadamente para o trabalho doméstico e de assistência. A revisão das pautas aduaneiras – um dos ‘cavalos de batalha’ de um populismo eleitoralista vincado no candidato Republicano – incidiria sobretudo nas relações com os vizinhos latino-americanos (especialmente, o México) e com um concorrente direto, a China. Algumas das linhas mais claras da propaganda de Trump em termos de Política de dinamização laboral focaram-se nos efeitos da baixa de impostos combinados com desregulação laboral, visando a dinamização dos negócios norte-americanos e da aposta nas infra-estruturas.
No entanto, qualquer destas propostas, ainda mais embrulhadas num discurso político que caiu na hipérbole e no disfemismo na campanha eleitoral que antecedeu as eleições presidenciais de 2016, vai chocar numa realidade caraterizada por três grandes desafios.
 A melhoria do défice orçamental pode não coincidir com os efeitos esperados na balança comercial, criando um hiato na poupança interna. As pautas aduaneiras revistas podem motivar políticas neo-mercantilistas/protecionistas que, em efeito boomerang, encarecerão os ‘devices’ mexicanos importados, por exemplo, e dificultarão a penetração dos negócios norte-americanos nos parceiros tarifados. Finalmente, o relançamento da indústria norte-americana com uma clara aposta nacionalista, de política industrial de substituição das importações e de substituição da mão-de-obra estrangeira pode não ser suficiente para manter postos de trabalhos qualificados, que poderão migrar para espaços como o Canadá ou para alguns países europeus. E se as coisas correm pior? Trump tem uma resposta imprópria para economistas: “U.S. Will Never Default Because You Print the Money," CNN, May 10, 2016. As lições da Grande Depressão já não fazem sentido para Trump e os seus conselheiros? Ou poesia eleitoralista?
Quais as consequências previsíveis destes cenários de Política Económica para Portugal? A concretizar-se a penalização de determinado capital humano imigrante nos EUA com a tendência de manutenção de um dólar forte, poderíamos esperar uma ‘fuga’ de investimento em bens transacionáveis para offshores e alguns dos rendimentos para a Europa, influenciando o Investimento Direto Estrangeiro recebido/desviado para o nosso país. Em contrapartida, as mexidas propostas no mercado laboral norte-americano podem gerar incentivos para uma aceleração de reformas em todos os pilares do Estado Social europeu, desde os direitos laborais até aos salários mínimos em vigor, passando pelos setores da Saúde e da Educação. No entanto, em não raros momentos, as Administrações Republicanas dificultaram mais o papel dos Governos de Direita europeus do que os ajudaram nas agendas internas. Bem como a tibieza com que a dupla Hillary-Trump se pronunciou sobre a Europa foi entendida sempre como uma certa ‘desvalorização’ do Velho Continente imerso em taxas de crescimento tímidas, em dossiers de cisão comunitária e debaixo do ‘bullying’ diplomático de Leste e do drama dos refugiados do Mediterrâneo. Uma coisa é certa – não esperem ‘steady states’ com Mr Trump.

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