domingo, 7 de maio de 2017

A Luz e a Sombras





Há uns anos, um selecionador europeu notou que havia grupos de jovens africanos debaixo dos postes de iluminação de uma capital africana. A primeira ideia seria a do tráfico ou a de outro tipo de associação pouco meritória. Na realidade, aqueles jovens, sem luz em casa, aproveitavam a iluminação pública para estudar.

Esta história mostra a importância do ‘efeito hotspot’. Em Economia, o efeito hotspot indica que tendemos a concentrar a atenção sobre aquilo que é iluminado e que está no nosso raio de alcance. Assim, não é de estranhar a concentração de Árvores de Interesse Público em concelhos com delegações dos Serviços Florestais, de candidaturas a financiamento comunitário bem sucedidas em espaços com consultoras com histórico de sucesso ou a concentração de Ministros e de Secretários de Estados em distritais com especial peso político (isto é, com iluminação hotspot).

Quando olhamos para a distribuição de uma variável num mapa (por exemplo, no mapa de Portugal), tendemos a encontrar ‘manchas de côr’: as concentrações destacadas a tonalidades mais escuras que se vão esbatendo à medida que observamos espaços com menores valores dessa variável. A esse fenómeno, chamamos autocorrelação espacial positiva. Uma variável com clara evidência de autocorrelação espacial positiva é a densidade demográfica.

No entanto, quando olhamos para o mesmo mapa - agora cobrindo uma outra variável - e encontramos pontos de concentração muito forte espalhados pelo território sem continuidade nos espaços mais contíguos temos o ’efeito hotspot’. Por isso, há concentração de dispositivos eletrónicos ou de cyber-utilizadores nos cafés com wi-fi ou nas varandas dos prédios das zonas universitárias.

Assim como o epifenómeno identifica os mega-eventos que acontecem num espaço uma vez por ano, o epicentro económico tende a ser um ‘hot spot’ que desenvolve de um modo intenso a economia dos locais imediatos mas que, como um eucalipto, tende a secar tudo em volta. Mas, como discuti recentemente num Seminário na Universidade de Milano-Bicocca, existe muita vida nas profundezas dos oceanos, isto é, em termos económicos, nos espaços de penumbra onde muitos sobrevivem nas sombras. Em termos de Economia laboral, o tema que aí discuti, fatores como a experiência, a idade certa, um passado de resistência mas também um certo brio individual, fazem com que nas profissões mais competitivas se consiga sobreviver longe dos holofotes, dos pódios, e do poder. Pilotos de Fórmula 1 como Andrea de Cesaris, Nick Heidfeld ou Martin Brundle são claros exemplos de homens que nunca ganhando uma corrida na F1 contaram muitas mais provas que outros pilotos que no entanto subiram ao lugar mais alto do pódio. Flores como as violetas ou as camélias crescem melhor nos espaços húmidos e sombrios.

Portanto, mesmo que não se possa estar debaixo da luz, existe a solução dada pelos Pink Floyd (em ‘Eclipse’): "There is no dark side of the moon really. Matter of fact it's all dark." Questão de Ótica. De espetro artístico, de palete política, ou de daltonismo.


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