Há cinquenta anos atrás, um
transmontano que fosse viver para Lisboa tenderia a responder à pergunta “De
onde é?” com a sede de concelho ou, então, depois da confiança conquistada pelo
outro, a detalhar a freguesia de onde era natural. Tendemos a responder a esta
pergunta tão simples “De onde vens?” de modo a que, não faltando à verdade das
nossas origens, não nos interroguem de seguida com uma das perguntas mais
mesquinhas que se pode fazer: “E onde fica isso?”. Daí que, gradativamente, se
responda Vila Real – Montalegre - Salto ou Vila Real - Santa Marta - Concieiro,
para se evitar o atestado de ignorância geográfica do nosso inquiridor.
Cinquenta anos depois, nos dias de hoje, com a globalização instalada, o
embaraço mantém-se perante muitos. Que o digam os nossos emigrantes que por
vezes já nem respondem “Vila Real” mas antes “Porto” ou “Norte” quando lhes
perguntam de que parte de Portugal são.
No entanto, a globalização tem
acelerado a homogeneização de muitas matérias. Nomeadamente, a aproximação do discurso
político entre as diversas forças partidárias europeias, como provo numa
investigação que será publicada em 2016 pela Applied Economics, conduzida em co-autoria pela Professora Elina de
Simone (da Universidade de Roma Tre). Analisámos os manifestos eleitorais de
todas as democracias europeias desde a década de 1970. E verificamos que tem
existido uma tendência de diminuição das diferenças de tópicos, de semântica e
inclusive de interpretação dos fenómenos sociais e económicos sobre os quais os
partidos políticos são chamados a pronunciar-se para cativar o eleitorado.
Se todos os cafés servem igual,
de quem é a culpa? Tradicionalmente, do consumidor e do regulador. Também se
tem verificado que o famoso Eleitor Mediano tem ganho terreno no contexto europeu,
obrigando os partidos a mudarem o seu posicionamento para centróides das suas
áreas de reflexão de maior proximidade com os “centros”. Também o regulador
europeu (instituições europeias, entenda-se) tem incrementado o apoio informal
aos partidos “bem comportados”, penalizando por diversos instrumentos os mais
radicais – o que liberta espaço para as ideologias mais extremadas crescerem
nas sombras do oficial e não serem debatidas/anuladas nos Parlamentos
estabelecidos. Mas, se todos os cafés servem igual, a culpa também é dos
taberneiros – isto é, dos políticos que se acusam, assim e inconscientemente,
de querem maximizar a coleta de votos e para isso usam discursos melífluos sob
o risco de faltarem aos seus fundamentos, e afastando tacitamente as vozes
correlegionárias mais dissonantes (quer as mais leais com os fundadores quer as
mais afastadas da centróide partidária). Como consequência, vamos tendo partidos
com discurso cada vez mais igual, mais previsível, mais manipulável pelos
financiadores, lobistas e sombras.
Antes, as diferenças nas
mensagens político-partidárias eram bem mais nítidas. Assim como era muito mais
difícil que o treinador do Benfica treinasse (de seguida) o Sporting. O ritmo
da globalização obrigou a uma aceleração da homogeneização em certos domínios
assim como conduziu a um radicalismo exacerbado em esferas que pareciam
neutralizadas. Porque, convém não esquecer, um dos princípios do Império Romano
(tão bem aproveitado pelas tropas vândalas de Alarico em 410) a concentração ao
centro facilita o cerco dos que estão fora.
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