sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Premiados de 2015 em Trás-os-Montes

Prémio Alvão
Comecemos pelo Prémio Alvão. A Serra do Alvão é partilhada por vários concelhos transmontanos e tradicionalmente é referida como a divisão da denominada província que surgiu com o nome de Trás-os-Montes há 6 séculos e a vizinha do Minho. Desde cedo, que o Alvão foi um berço para mim, pois nascido em Vila Real, cresci em Paradança e em Ponte de Olo, por razões de deslocação profissional dos meus pais (que eram professores). Logo, o Prémio Alvão de 2015 está associado também àqueles que criam dinâmica no espaço - o Empresário em Trás-os-Montes. Porque como o Alvão, esse empresário é discreto mas vigoroso, sonhador mas humilde, fatídico mas vivo.

Prémio Marão
Já muito escrevi e outros escreveram sobre o Marão. Quando colaborava com o Pedro Mexia, com o Ricardo Araújo Pereira ou com o José Luis Peixoto no DN Jovem, intitulavam-me o “Maranus Mourão”. Logo este Prémio  vai para aquela figura de qual falo no meu mais recente livro (o Economia sem Gravata) – o IETI, isto é, o Inteletual e/ou Escritor Tendencialmente do Interior. Muitos têm criticado como a concentração demográfica tem criado uma aura de estranheza/exotismo que paira sobre os académicos, investigadores, romancistas, jornalistas, poetas e almas livres que habitam a leste do semimeridiano dos 8º W. Para todos estes IETI – sobretudo, para a sua Resistência – vai o Prémio Marão.

Prémio Larouco
O deus Larouco estende os braços pela Galiza adentro onde se molha numa pequena gotícula que dá origem ao Tâmega. O Larouco exorciza mas também forma homens e mulheres por inteiro. O Larouco converteu Frei Bartolomeu dos Mártires num homem do Renascimento. E o Larouco silenciou legiões de invasores europeus ao longo dos séculos. Portanto, o Prémio Larouco será para uma instituição – A Voz de Trás-os-Montes. No mundo digital, onde o facebook espreita primeiro o quintal dos vizinhos e devassa a vida paroquial, o jornal A Voz de Trás-os-Montes (e seus pares teimosos por esse país fora) democratiza a informação, luta contra a info-exclusão e evita a desvalorização daqueles que no lugar de iphones preferem o calor humano.

Prémio Douro
O Douro é o nosso primeiro e o nosso último novíssimo. Esvazia-nos de humanidade para nos escancarar como essência. O Prémio Douro é um Prémio assim para um sacrário de transmontanidade – o transmontano licenciado que está desempregado. Muitos dirão que deve emigrar. Muitos dirão que deve litoralizar-se. Muitos rir-se-ão do curso que tirou. Os pais dir-lhe-ão que não o/a querem nos campos. Os colegas de outras paragens acenam-lhe de outras paragens nas redes sociais. Mas ele ficou. Mas ela ficou. Qualquer ato de resistência será sempre um misto de loucura, de paixão, de medo, de incapacidade, de ineficiência. De anonimato estéril. Como a esteva do monte. Como uma torga. O Douro é o maior Prémio para o Desempregado que resiste em Trás-os-Montes. Com tudo o que tem de Absoluto, com tudo o que tem de Miséria. Com tudo o que tem de incomensurável.

Prémio Corgo
Existe um silêncio estranho quando se pergunta numa aula, numa rua, ou numa esplanada com um pelourinho ao pé qual o episódio de maior repressão centralista em Portugal. E qual o calvário tingido de sangue que o caraterizou. Esse gólgota foi o Corgo entre 1771 e 1775, na Devassa Pombalina. Se não o sabem, pesquisem nas academias ou basculhem na alma dos antepassados. Também podem ler o meu Terra Visitada (Prémio Literário Cidade da Horta, 2007) sobre o assunto. Portanto, o Prémio Corgo vai para a maior pobreza da região. Será a pobreza de nível de vida? Nada disso (até bem pelo contrário). Será a pobreza de emprego? Essa não é reserva, infelizmente, da região. Será a pobreza de líderes capazes? Esse é problema geracional. A maior pobreza da região é o empobrecimento da população sénior. Abandonada pelo sistema público de saúde, esquecida do deus PIB, desprezada na sua ruralidade, vampirizada no seu parco poder de compra.

Prémio Pinhão
O rio Pinhão nasce em Raiz do Monte (Vila Pouca de Aguiar) e desagua no cais homónimo. Poderemos perguntar se o rio ganhou o nome devido ao cais ou se foi o cais que ganhou o nome devido ao rio. Um pouco como a questão complexa de Vinho do Porto que ganhou o nome devido ao embarque. A questão do Pinhão é uma questão mais profunda que trazida para a antropologia regional poderia questionar se é transmontano quem vive em Trás-os-Montes ou se a transmontanidade não necessita de berçário. O Prémio Pinhão é pois para todos aqueles que passando pela região, levam a mesma sem a tirar – os Turistas. Durante séculos, este espaço não era turístico – era de existência. Agora, também é turístico. Do contato com o Outro, torna-se o ser humano mais humano. Curiosamente, sempre o transmontano o soube. No entanto, precisa sempre do Outro para o recordar.

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