terça-feira, 14 de junho de 2016

O tempo e o vento



O título desta crónica foi importado de uma das grandes obras de Erico Veríssimo que, aproveitando a temática das Guerras do século XIX travadas pelo jovem Estado do Brasil com os seus jovens vizinhos, reflete sobre, apesar do fervor emergente saído das gargantas do Ipiranga ou dos credos bolivarianos, muita coisa de velho fica nos homens.
Já os romanos diziam que “Labitur exiguo quod partum est tempore longo”, mostrando que a memória é curta para o longo esforço. Assim como uma árvore que depressa perece abatida após um longo período de crescimento, também a memória do que fica para trás tende a diluir-se perante os desafios do presente prioritário.
No entanto, marca de que a saudade portuguesa não se encurta com a distância geográfica é a continuidade do valor das remessas dos emigrantes que os portugueses têm enviado persistentemente para as famílias que ficam. Se antes as remessas dos emigrantes na França, na Alemanha e no Luxemburgo eram as remessas mais significativas, encontramos agora Angola, o Brasil, ou a Inglaterra nas origens destes fluxos unilaterais que são relevantes para equilibrar os desequilíbrios internos (excesso de consumo sobre a poupança) e os desequilíbrios externos (saldos comerciais negativos, com repercussão clara na Balança de Transações Correntes).
Estudei estes fluxos no artigo “Income inequality in host countries and remittances: a discussion of the determinants of Portuguese emigrants’ remittances"; a ser publicado neste ano de 2016 na revista científica “International Migration”. Adicionalmente, coloquei um foco especial na evolução do padrão de desigualdade de rendimentos nos países onde os nossos emigrantes são acolhidos. Na realidade, quis testar se o aumento da desigualdade, por exemplo na França ou na Alemanha, tendendo a tornar as condições de vida piores para os nossos emigrantes, tem implicações nos montantes enviados para Portugal.
Antecipando a complexidade da avaliação empírica associada, a resposta é sim. Desequilíbrios maiores na distribuição dos rendimentos nos países de acolhimento diminuem o montante enviado pelos nossos emigrantes para Portugal, com repercussões imediatas no investimento induzido, no consumo estimulado, no défice de transações correntes e, finalmente, nas nossas próprias condições de vida.
Assim, a Política Europeia em matéria laboral e de fluxos migratórios não pode negligenciar estes impactos. Como num efeito-dominó, o que de bom ou mau acontece num parceiro comunitário reflete-se sempre nas nossas condições de vida. Com retroação futura.
Assim, numa altura em que o Projeto Europeu, anestesiado pela ilusão do mundo desportivo que tem o condão de parecer reunir as nações numa atenção comum, enfrenta desafios em catadupa e que ameaçam atingir proporções que a atual condução da Política Orçamental dos Estados, a fragilidade monetária da Zona Euro e, finalmente, a indefinição face ao drama das novas migrações colocam estes Verão e Outono em pressões que exigirão muita prudência a todos os atores internacionais e muitas provisões que os políticos nacionais devem realizar. La Fontaine recordou-nos como a formiga – um símbolo real do emigrante Português -soube preparar o inverno…