sexta-feira, 20 de setembro de 2019

O relógio do Investimento




O momento do Investimento não é um momento aleatório. Não decidimos comprar uma casa no meio do sono ou porque escorregamos na rua. Quando se realizam investimentos – quer individuais quer públicos – o momento em que o “processo de investimento” decorre não é um período aleatório. Pelo contrário, desde o momento de observação e estudo dos custos de oportunidade, até à avaliação do retorno, passando pela oportunidade da decisão, pela especulação junto dos restantes agentes no mercado – desde outros investidores até eventuais parceiros para completar o financiamento e o suporte nas fases posteriores – quando se Investe joga-se, pois, também com o momento.
Como o jogador de Sueca sabe, por vezes mostrar trunfos é oportuno e noutras uma infantilidade. O investidor bolsista sabe-o também. Recolhe informação durante a noite para decidir a melhor estratégia na abertura das bolsas; olha a evolução ‘intraday’ para decidir se aquele ‘preço’ está muito alto ou se pelo contrário está muito baixo e se será uma boa opção. Os clubes de futebol não correm todos a adquirir os passes do João Félix no dia 1 de julho como também sabem que ter casos Bruno Fernandes pode comportar custos de armazenamento/depreciação do stock.
Inclusivé, a Ciência Política sabe que o Investimento –desde o anúncio ou a promessa de anúncio até à finalização e acompanhamento dos retornos públicos e sociais – obedece a um calendário estratégico que se cruza com a agenda eleitoral e com a gestão de prestígio e de capital político dos envolvidos.
No entanto, há situações em que o Investimento nunca mais surge – a noiva nunca mais casa, as Auto-estradas deixam de ser feitas, o Bruno Fernandes acumula vermelhos no campeonato. A Bolsa fecha dia após dia no vermelho, os investidores saem para outras paragens que crescem em tamanho, em desenvolvimento, até em ânimo dos agentes económicos. Porque o Investimento – como diversos autores da Economia sabem – tem esse efeito pitoresco de nos animar. O Belo conduz ao Bem; ao invés, cidades que se degradam, casas que se abandonam, ruas devolutas, barbas que não se aparam, vinhas que não se vindimam ou chamadas para o lugar de Ministro – ou até para jantar um francesinha - que não se fazem/recebem levam à desvalorização – isto é, ao momento em que se perde Valor na Economia, especificamente no Capital Financeiro, no Capital Politico e no Capital Social. O investimento que nunca mais chega pode inclusive dar lugar ao desinvestimento que é a deslocação de fábricas, empregos, atenção e orgulho. E onde outrora se rezava ao Senhor agora não passa da abandonada capela da Senhora da Ribeira. Onde outrora foi uma casa com uma mesa onde o casal jantava o caldo com seis filhos parece um castanheiro rodeado de hera na paisagem em Vinhais. Onde outrora tínhamos uma grande promessa do futebol mundial vai ficando na expetativa de um defeso onde tudo corra bem.
Enquanto isso, a caravana passa ao longe nas estradas cada vez mais modernas e dinâmicas onde cai o investimento. E no entanto como Saint-Éxupery sabia, onde se permanece, aí se investe. Aí se deixa Capital – que é o cofre onde guardamos os nossos Valores, isto é, os nossos esforços, o nosso custo. Que até pode ser monetário ou financeiro. Mas em muitas mais vezes é em Atenção, Presença, Calor e Amizade.