quarta-feira, 26 de julho de 2017

Quantas palmas vão bater em cada comício?




Uma das fórmulas mais estudadas na gestão da carteira de investimentos de risco é a fórmula de Kelly. Esta fórmula indica que em situações arriscadas devemos apostar mais se esperamos um retorno maior ou se a probabilidade de sucesso também for maior.

No entanto, está provado que esta fórmula conduz muito depressa a ficarmos milionários ou a ficarmos sem nada. Como leva a que as pessoas invistam muito quando estão cheias de confiança, faz com que muito se perca quando se aposta no cavalo errado, na ação errada, ou na ‘odd’ incorreta.

Os gestores prudentes usam mecanismos de desconto que fazem com que a probabilidade de sucesso não pareça tão alta nem o retorno se afigure tão generoso. Os gestores ‘all-in’ apostam tudo e no fim pedem a nacionalização do banco.

Dada a proximidade das campanhas autárquicas, este problema coloca-se a cada eleitor. E se existe uma questão que vem tirando o sono a muitas pessoas é “Quantas palmas devo bater no comício do Candidato A?” e/ou “Quantas palmas devo bater no comício do Candidato B?” Ou Candidato C, D e E?

Pois bem, se a confiança na vitória do A for grande e o retorno que espera (por exemplo, uma nomeação, uma assessoria, ou um lugar de quadro) for também grande, deve apostar muito. Deve bater muitas palmas no comício do A, deve levar bombos e famelga, até deve organizar a campanha dele. Obviamente, sobrar-lhe-ão poucas palmas para o candidato B, para o C, ou para o D.

Mas se a confiança na vitória do A for baixa e/ou se não esperar grande coisa das promessas dele (ou dela), então deve bater poucas palmas no comício do A. Não vá colocar todas as fichas na casa errada e sair-lhe a do lado. Aí, como bom investidor que não coloca os ovos no mesmo cesto, deve guardar umas palminhas para outros candidatos: comece por guardar algumas para os da sua cor política nos concelhos vizinhos, depois para os da vizinhança ideológica do seu concelho, e por fim, aposte às cegas algumas palmas. Por vezes, as gerigonças ganham, o Tondela empata, e o burro cansado chega ao fim na corrida da Almodena.

O problema com esta fórmula é que depressa ficará milionário em termos políticos, colecionando um excelente capital político, ou então ficará um pária e terá de procurar alojamento político, camarário ou até social nos territórios vizinhos.

Na realidade, como tenho vindo a analisar, as eleições mexem com as migrações a nível europeu. E se em anos de eleições normais a taxa de emigração abranda, já dois anos depois, com as nomeações feitas e alguns contratos resolvidos, a emigração tende a aumentar. Porque uma das belezas da vida eleitoral democrática é a de gerir ciclos de sonho e de esperança, intercalando-os com os de desilusão e deceção. Afinal, há ciclos políticos nas migrações. Para lá, das migrações dos lugares de vereação, nomeação e assessoria.

Portanto, quantas palmas vão bater em cada comício?

quarta-feira, 12 de julho de 2017

A era listada





Num mundo que devora informação sem a digerir convenientemente, cada vez mais premeia aqueles que a escolhem para os outros. Neste mundo de tempo limitado e informação, dados, opiniões e ‘posts’ quase incomensuráveis, o aparecimento dos ‘rankings’ veio trazer uma espécie de listagem onde todos estão listados em qualquer lado, onde qualquer instituição está passível de ver o seu nome numa pauta para cujo exame não se candidatou e onde qualquer país, seleção nacional ou conjunto de alunos pode ficar catalogado com um dado valor que demorará tempo a desvincular.

Na Ciência Económica, a utilização e a justificação dos ‘rankings’ não é novidade. Desde os índices bolsistas até aos famosos ‘rankings’ das dívidas soberanas, rara é a realidade imune à tentação da ordenação. Se, por uma via, estamos habituados, desde os bancos da escola até ao desempenho desportivo nos campeonatos, a estudar ‘rankings’ porque os mesmos não hão-de aparecer para as demais realidades? Mas, por outra via, nas classificações dos campeonatos desportivos ou nas pautas escolares só aparecem os candidatos inscritos e no entanto em diversos ‘rankings’ económicos, empresariais ou industriais não é raro aparecer uma empresa ou uma entidade listada sem, aparentemente, os seus gestores terem sido abordados.

Perante este paradoxo, que em termos legais pode raiar às questões do direito à privacidade de dados, a explicação convencional, importada do lado de lá do Atlântico (muito mais familiarizados a olhar para o marcador do que para o campo ou a emocionarem-se com a dança dos números e depois com a agilidade dos atletas) tem três bases. A primeira base, muito discutida e discutível, assume que todos têm interesse em revelar dados, isto é, uma empresa, uma ‘holding’ ou um país ganha em toda a frente se for transparente, se revelar os seus valores e se os expuser à discussão pública. Pelo contrário, empresas, ‘holdings’ ou países de quem ninguém nada sabe são associadas a ditaduras ou a realidades paralelas ou subterrâneas. A segunda base, também muito discutida e muito discutível, pressupõe que todos os listados – tenham gosto ou não em estarem na lista – terão incentivos adicionais em melhorarem a sua posição após a publicação do ‘ranking’. A terceira base – e como as anteriores, muito discutida e discutível – assume que a dança de posições é de soma nula: o gosto que eu tenho por subir anula o aborrecimento que tens porque desceste.

No entanto, se ‘rankings’ multidimensionais – como o Índice de Desenvolvimento Humano ou os Índices de Transparência Fiscal ou de Perceção da Corrupção não angustiam muita gente nem promovem brados de alegria noutros tantos, já as reações postas em ‘rankings’ como os da Dívida Soberana ou os da FIFA e da UEFA não são tão passivas. A razão não é única mas tem duas orientações. A primeira é a da Responsabilização pelo Comum. Enquanto o IDH revela uma realidade de todos, partilhada por todos num país e em certa medida por todos os partidos, já nos ‘rankings’ sobre a Dívida Soberana é muito mais fácil atribuir vitórias ou derrotas a alguns. Logo, quanto mais lato for um Índice menos reativo ele é. A segunda orientação é de dinâmica emocional. Mudanças de posições no IDH do país podem ocorrer de ano para ano mas mais importantes são as mudanças ao longo das décadas. Já as mudanças nos mercados bolsistas ou nos rankings da FIFA e da UEFA ocorrem com muito maior frequência – o que interessa ao tempo mediático e a outros ritmos, como o do ciclo político.