A relevância dos
rankings de empresas
Os valores divulgados pelo semanário “A Voz de
Trás-os-Montes” trazem uma discussão global para a realidade transmontana. A
divulgação de ‘rankings’ de empresas baseados em indicadores de desempenho
económico-financeiro não é novidade a uma escala global (onde os mesmos
rankings são disponibilizados diariamente e com base em informação originária
dos mercados bolsistas) nem a uma escala nacional (onde diversas publicações
tem realizado um esforço próprio). No entanto, a novidade neste caso está na
divulgação destes rankings a partir de unidades com algum tipo de sede/atividade
na região transmontana (mais propriamente, dentro dos distritos de Vila Real e
Bragança).
Os rankings de empresas são ordenações de casos individuais
em função de uma dimensão ou de uma combinação matemática de variáveis
observadas para os mesmos casos individuais. No fundo, são uma espécie de
tabela classificativa que, no lugar de ter equipas de futebol, tem empresas.
Assim como nos campeonatos desportivos os adeptos gostam de ver a sua equipa
nos lugares cimeiros, também nos rankings empresariais os agentes investidores,
gestores, colaboradores ou patrocinadores gostam de ver que os seus esforços
foram ‘relativamente’ reconhecidos, colocando a sua empresa ou as empresas do
seu concelho ou do seu cabaz de fornecimentos bem alocadas nos rankings.
Adicionalmente, empresas bem posicionadas terão um elemento adicional (ainda
que, na prática, marginal) de agilização de novos financiamentos e de
alavancagem das próprias atividades no futuro próximo.
Uma leitura – os mais
dos mais, setores, idades, e localização
O ranking agora divulgado destaca as seguintes unidades
empresariais. No Volume de Negócios oficializado para o exercício de 2015, o
Top-3 é composto por Faurécia (Material Automóvel, em Baçal, Bragança), Gold
Energy (Equipamentos energéticos, em Vila Real) e pelo Centro Hospitalar de
TMAD (Setor da Saúde, em Lordelo, Vila Real). Estas unidades revelaram um
volume de negócios superior, individualmente, a 100 milhões de euros. O Top-3
por Resultado Líquido é composto por Faurécia, NorScut (Concessionária de
Auto-Estradas, em Lixa do Alvão, Vila Pouca de Aguiar) e por VMPS (a sucedânea
da Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas), com resultados superiores,
individualmente, a 8 milhões de euros. Em termos de número de colaboradores, o
Top-3 é composto pelo Centro Hospitalar de TMAD, pela Faurécia e pela VMPS,
individualmente, com mais de 300 colaboradores. Destas 500 empresas de
referências, as mais antigas segundo a fonte dos dados são a Sociedade Agrícola
da Romaneira (Alijó), a Empresa Alfandeguense (Transportes) e a Quinta do
Crasto (Gouvinhas), com mais de 90 anos de atividade.
Benefícios e Desafios
para a região
O que ganhamos nós – a maioria de nós - com estas empresas,
além de sermos consumidores dos seus produtos ou utentes dos seus serviços?
As grandes empresas sempre foram os principais agentes de
propulsão da inovação a nível mundial. Mesmo as soluções a Silicon Valley, de
empreendedorismo de garagem, só atingiram a maturidade de benéficas para a
economia global quando se associaram com os “grandes”. A disponibilidade de
recursos próprios, a presença de departamentos específicos de qualidade, de
análise dos segmentos de criação e distribuição de valor, bem como a robustez
das suas estruturas financeiras tem justificado o seu papel pioneiro na
definição de novas práticas de gestão, na introdução de novos produtos nos
mercados regionais e na alteração das dinâmicas de negociação e de influências.
No entanto, até aqui estivemos numa análise ‘fechada’,
isolando/transmontanizando a observação. Por exemplo, se olharmos para o país,
a Faurécia ocupa a 93ª posição no ranking das maiores empresas portuguesas.
Esta comparação mostra uma realidade bem complexa que, no lugar de deprimir o
esforço conjunto de empresários, autarcas, investidores e colaboradores deve
levá-los a um desafio tripartido.
O primeiro desafio prende-se com a necessidade de, em
permanência, as grandes empresas da região procurarem a internacionalização, o
alcance de mercados mais exigentes e de práticas modernizadas. O segundo desafio
relaciona-se com a gestão desse esforço. Se é bom ser exigente, não é bom ser
esgotável. O esforço das unidades produtivas da região deve ser reconhecido –
como A Voz de Trás-os-Montes está a fazer e como as Associações Empresariais e
Comerciais da região devem fazer melhor – condicionado à região. Não faz
sentido comparar/exigir/pedir uma realidade de internacionalização das empresas
locais como se exige a uma Petrogal ou a Jerónimo Martins. Finalmente, a região
deve pedir que as suas grandes empresas sejam fonte de receitas fiscais para os
espaços, que criem emprego qualificado, que reservem uma quota desse emprego
para os residentes locais e ainda que manifestem expressiva responsabilidade
social nos espaços envolventes.