sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Sobre os Grandes da nossa terra



A relevância dos rankings de empresas

Os valores divulgados pelo semanário “A Voz de Trás-os-Montes” trazem uma discussão global para a realidade transmontana. A divulgação de ‘rankings’ de empresas baseados em indicadores de desempenho económico-financeiro não é novidade a uma escala global (onde os mesmos rankings são disponibilizados diariamente e com base em informação originária dos mercados bolsistas) nem a uma escala nacional (onde diversas publicações tem realizado um esforço próprio). No entanto, a novidade neste caso está na divulgação destes rankings a partir de unidades com algum tipo de sede/atividade na região transmontana (mais propriamente, dentro dos distritos de Vila Real e Bragança).
Os rankings de empresas são ordenações de casos individuais em função de uma dimensão ou de uma combinação matemática de variáveis observadas para os mesmos casos individuais. No fundo, são uma espécie de tabela classificativa que, no lugar de ter equipas de futebol, tem empresas. Assim como nos campeonatos desportivos os adeptos gostam de ver a sua equipa nos lugares cimeiros, também nos rankings empresariais os agentes investidores, gestores, colaboradores ou patrocinadores gostam de ver que os seus esforços foram ‘relativamente’ reconhecidos, colocando a sua empresa ou as empresas do seu concelho ou do seu cabaz de fornecimentos bem alocadas nos rankings. Adicionalmente, empresas bem posicionadas terão um elemento adicional (ainda que, na prática, marginal) de agilização de novos financiamentos e de alavancagem das próprias atividades no futuro próximo.

Uma leitura – os mais dos mais, setores, idades, e localização

O ranking agora divulgado destaca as seguintes unidades empresariais. No Volume de Negócios oficializado para o exercício de 2015, o Top-3 é composto por Faurécia (Material Automóvel, em Baçal, Bragança), Gold Energy (Equipamentos energéticos, em Vila Real) e pelo Centro Hospitalar de TMAD (Setor da Saúde, em Lordelo, Vila Real). Estas unidades revelaram um volume de negócios superior, individualmente, a 100 milhões de euros. O Top-3 por Resultado Líquido é composto por Faurécia, NorScut (Concessionária de Auto-Estradas, em Lixa do Alvão, Vila Pouca de Aguiar) e por VMPS (a sucedânea da Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas), com resultados superiores, individualmente, a 8 milhões de euros. Em termos de número de colaboradores, o Top-3 é composto pelo Centro Hospitalar de TMAD, pela Faurécia e pela VMPS, individualmente, com mais de 300 colaboradores. Destas 500 empresas de referências, as mais antigas segundo a fonte dos dados são a Sociedade Agrícola da Romaneira (Alijó), a Empresa Alfandeguense (Transportes) e a Quinta do Crasto (Gouvinhas), com mais de 90 anos de atividade.

Benefícios e Desafios para a região
O que ganhamos nós – a maioria de nós - com estas empresas, além de sermos consumidores dos seus produtos ou utentes dos seus serviços?
As grandes empresas sempre foram os principais agentes de propulsão da inovação a nível mundial. Mesmo as soluções a Silicon Valley, de empreendedorismo de garagem, só atingiram a maturidade de benéficas para a economia global quando se associaram com os “grandes”. A disponibilidade de recursos próprios, a presença de departamentos específicos de qualidade, de análise dos segmentos de criação e distribuição de valor, bem como a robustez das suas estruturas financeiras tem justificado o seu papel pioneiro na definição de novas práticas de gestão, na introdução de novos produtos nos mercados regionais e na alteração das dinâmicas de negociação e de influências.
No entanto, até aqui estivemos numa análise ‘fechada’, isolando/transmontanizando a observação. Por exemplo, se olharmos para o país, a Faurécia ocupa a 93ª posição no ranking das maiores empresas portuguesas. Esta comparação mostra uma realidade bem complexa que, no lugar de deprimir o esforço conjunto de empresários, autarcas, investidores e colaboradores deve levá-los a um desafio tripartido.
O primeiro desafio prende-se com a necessidade de, em permanência, as grandes empresas da região procurarem a internacionalização, o alcance de mercados mais exigentes e de práticas modernizadas. O segundo desafio relaciona-se com a gestão desse esforço. Se é bom ser exigente, não é bom ser esgotável. O esforço das unidades produtivas da região deve ser reconhecido – como A Voz de Trás-os-Montes está a fazer e como as Associações Empresariais e Comerciais da região devem fazer melhor – condicionado à região. Não faz sentido comparar/exigir/pedir uma realidade de internacionalização das empresas locais como se exige a uma Petrogal ou a Jerónimo Martins. Finalmente, a região deve pedir que as suas grandes empresas sejam fonte de receitas fiscais para os espaços, que criem emprego qualificado, que reservem uma quota desse emprego para os residentes locais e ainda que manifestem expressiva responsabilidade social nos espaços envolventes.