Recentemente, o relatório da edição portuguesa da Rede Europeia contra a Pobreza auscultou a evolução nos principais indicadores de distribuição do rendimento pelos municípios portugueses. O distrito de Vila Real oferece um mosaico relevante para o analista económico que se preze. Se, por uma via, o município de Vila Real tem indicadores que o aproximam deveras dos valores encontrados na faixa litoral do país, por outra via apresenta outros indicadores – como o rácio dos rendimentos mais altos sobre os mais baixos – que pertence ao top-10 do país. Como ainda recentemente analisei num artigo com Alexandre Junqueira, (publicado no Sustainability) o aumento da desigualdade de rendimentos, muito bom para uns e muito mau para outros, tende a estar associado a aumento da insegurança do património dos cidadãos e a uma ameaça significativa a um dos bens mais importantes de todos – a tranquilidade. Regiões onde a diferença entre os que ganham muito e os que ganham menos é muito significativa são regiões que atraem o interesse de quem não interessa. As razões são várias. Uma delas é que, em cenários de crise social latente – como a que vivemos – não é o pai de família que ontem ficou desempregado que amanhã vira ladrão. Mas, muitas vezes, esse pai de família que funcionava como silenciador social de muitos dependentes, deixa de o conseguir em situação de desemprego, fazendo com que os dependentes, por vezes, em redes de fragilidade social, passem a pedir ou a importunar os cidadãos de áreas ou concelhos vizinhos. Não será pois coincidência o aumento de notícias que dão conta de detenções por motivos de assalto ou de roubos perpetrados nos concelhos do nosso interior.
Neste cenário de segundo confinamento generalizado que vivemos, reforço o aviso que deixei no primeiro. Importa deslocar a nossa atenção, até eventualmente a parca poupança que forçadamente não pudemos gastar pelas limitações de mobilidade, para as empresas locais, para o comércio local, para o investimento local. Se não podemos circular, que pelo menos a nossa boa-vontade – e se possível, o nosso dinheiro - circule. Exemplos começam a surgir vindos de universitários que organizam bancos alimentares para apoiar colegas em fragilidade. Outros exemplos devem ser replicados, nomeadamente a atenção dos municípios para os seus empresários – não basta a redução ou a moratória do pagamento de rendas, não basta a dependência da bazuca que dificilmente aqui chegará com a força da primeira rajada. Impõe-se o desenvolvimento de canais que possibilitem a circulação dessa “poupança forçada”, a sustentabilidade dos empregos em risco, a preservação dos negócios nas lojas, o apoio ao empreendedor local, o recurso à empreitada vizinha. A própria sociedade – nós, no fundo – temos de reagir. Quantos de nós ligaram ao comerciante encerrado por razões epidémicas? Quantos de nós pensámos em como dinamizar a sua atividade ainda que sem a proximidade habitual? Quantos de nós conseguimos ajudar muitos dos nossos empresários com a burocracia tão estranha que lhes é pedida para ficarem na fila dos apoios? Quantos de nós preferimos verdadeiramente evitar que a região vire uma longa rua devoluta?