sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O endógeno e o exógeno







Na análise económica, ensinamos a distinção entre um estímulo exógeno (que parte de realidades que, só muito residualmente, podem ser alteradas pelos agentes recetores do estímulo) e um impulso endógeno (derivado das opções individuais de cada agente em análise). Assim, o efeito que sentimos relativamente à inflação é muito mais claramente identificado como exógeno (para nós) do que o desemprego ou os padrões de consumo.
Se estes efeitos acontecem sobre nós, também podem acontecer sobre os espaços. Um espaço sofre consequências exógenas quando impostas por ‘forças’ que em pouco mais de nada se importam com o referido espaço. O espaço sofre ‘políticas endógenas’ quando as consequências são derivadas pelas escolhas dos agentes desse mesmo espaço. Por exemplo, as teorias de Crescimento Endógeno assumem que os agentes impulsionadores se esforçam por produzir mais e por auferirem melhor nível de vida, recebendo assim parte do resultado desse esforço.
No entanto, é muito comum observarmos como as forças endógenas e exógenas andam por aí ao deus-dará. Sobretudo, no discurso político. Quando algo corre mal, foi uma força exógena – foi o destino, foi o Governo, foi o azar, foi o tempo, ou então, como recentemente se tornou moda – a culpa é do Benfica. Quando algo corre bem, é sempre mérito dos “nossos” – os do nosso bairro, os do nosso clube, os do nosso partido, os da nossa religião, os da nossa casa, os do nosso coração. Quando, em rigor, como a Economia nos ensina, desde o nosso nascimento até à nossa morte, somos feitos de escolhas e somos feitos por escolhas (a começar pela escolha da Mãe em nos dar a luz). Escolhas que tem sempre a sua parte de consequências endógenas (imputáveis a nós) e consequências exógenas (como dizia Sartre, o Inferno são os Outros).
Vai ser publicado no Journal of Iberian and Latin American History o meu trabalho intitulado “Port wine, Brazil, and the world economy: A time series analysis from 1756 to Brazilian independence”. Nesse trabalho, refuto algumas ‘tradições’ sobre a evolução do comércio de Vinho do Porto com o Brasil.
Geralmente, o Vinho do Porto teve um destino prioritário no Reino Unido e só uma parte residual era alocada ao Brasil (e a territórios sob administração portuguesa). Geralmente isto era explicado por ‘episódios endógenos’, como a inexistência de uma cultura de consumo do nosso Vinho no Brasil, o desinteresse/incúria dos administradores em solo brasileiro ou o empobrecimento da qualidade no transporte remoto. Hipóteses que desmistifiquei ao validar a importância das ‘forças exógenas’, como a evolução dos preços e das taxas de câmbio que favoreciam de sobremaneira o comércio com a Europa deste nosso produto que foi a principal exportação portuguesa até ao século XX.
Assim, se provou que sabendo gerir o comércio internacional, sabendo aproveitar a ‘força exógena das marés’, os barcos bem navegados chegam ao seu destino. Conclusão: escolham-se bons timoneiros e aprenda-se a aproveitar a energia das forças exógenas.

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