Na análise económica, ensinamos a
distinção entre um estímulo exógeno (que parte de realidades que, só muito
residualmente, podem ser alteradas pelos agentes recetores do estímulo) e um
impulso endógeno (derivado das opções individuais de cada agente em análise).
Assim, o efeito que sentimos relativamente à inflação é muito mais claramente
identificado como exógeno (para nós) do que o desemprego ou os padrões de
consumo.
Se estes efeitos acontecem sobre
nós, também podem acontecer sobre os espaços. Um espaço sofre consequências
exógenas quando impostas por ‘forças’ que em pouco mais de nada se importam com
o referido espaço. O espaço sofre ‘políticas endógenas’ quando as consequências
são derivadas pelas escolhas dos agentes desse mesmo espaço. Por exemplo, as
teorias de Crescimento Endógeno assumem que os agentes impulsionadores se
esforçam por produzir mais e por auferirem melhor nível de vida, recebendo
assim parte do resultado desse esforço.
No entanto, é muito comum
observarmos como as forças endógenas e exógenas andam por aí ao deus-dará.
Sobretudo, no discurso político. Quando algo corre mal, foi uma força exógena –
foi o destino, foi o Governo, foi o azar, foi o tempo, ou então, como
recentemente se tornou moda – a culpa é do Benfica. Quando algo corre bem, é
sempre mérito dos “nossos” – os do nosso bairro, os do nosso clube, os do nosso
partido, os da nossa religião, os da nossa casa, os do nosso coração. Quando,
em rigor, como a Economia nos ensina, desde o nosso nascimento até à nossa
morte, somos feitos de escolhas e somos feitos por escolhas (a começar pela
escolha da Mãe em nos dar a luz). Escolhas que tem sempre a sua parte de
consequências endógenas (imputáveis a nós) e consequências exógenas (como dizia
Sartre, o Inferno são os Outros).
Vai ser publicado no Journal of Iberian and
Latin American History o meu trabalho intitulado “Port wine, Brazil, and the
world economy: A time series analysis from 1756 to Brazilian independence”. Nesse
trabalho, refuto algumas ‘tradições’ sobre a evolução do comércio de Vinho do
Porto com o Brasil.
Geralmente, o Vinho do Porto teve
um destino prioritário no Reino Unido e só uma parte residual era alocada ao
Brasil (e a territórios sob administração portuguesa). Geralmente isto era
explicado por ‘episódios endógenos’, como a inexistência de uma cultura de
consumo do nosso Vinho no Brasil, o desinteresse/incúria dos administradores em
solo brasileiro ou o empobrecimento da qualidade no transporte remoto.
Hipóteses que desmistifiquei ao validar a importância das ‘forças exógenas’,
como a evolução dos preços e das taxas de câmbio que favoreciam de sobremaneira
o comércio com a Europa deste nosso produto que foi a principal exportação
portuguesa até ao século XX.
Assim, se provou que sabendo
gerir o comércio internacional, sabendo aproveitar a ‘força exógena das marés’,
os barcos bem navegados chegam ao seu destino. Conclusão: escolham-se bons
timoneiros e aprenda-se a aproveitar a energia das forças exógenas.
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