Uma das obras mais emblemáticas de Karl Marx é “O Capital”.
Difundida sobretudo após a revisão de Engels, já Marx tinha morrido, tornou-se
uma das referências da Política Económica do Direito Político de influência
socialista, rapidamente após as primeiras edições. Conta-se que Lenine teria
tido alguns dos seus esgotamentos após leituras desta (tríplice) obra densa.
Ultrapassando a celeuma idiossincrática envolvente assim
como as leituras precipitadas ou enviesadas que a distância comportou, “O
Capital” é uma obra naturalmente inserida na categoria da “Economia Clássica”,
a par dos ‘Principles’ de Stuart Mill ou da ‘Political Economy’ de David Ricardo.
Pois os economistas clássicos reconheciam enquanto capital – isto é, tudo que é
depósito de Valor – como um fator essencial de produção, a par do Trabalho
(isto é, a par da força transformadora do Homem no meio envolvente). Assim, a
fórmula clássica “Produto é função de Capital e de Trabalho” era interpretada
como o Esforço sendo proporcional à Reserva de Valor (Energia Potencial)
combinado com Trabalho (Força motriz).
Desde esse Século XIX, novas formas de capital emergiram, a
par de novas formas de trabalho. Atualmente, fala-se sobretudo também de
Capital Humano (a valorização de cada um pelo Ensino e pelas Qualificações,
quer ‘hard skills’ quer ‘soft skills’), de Capital Social (a valorização de
cada um por pertencer a grupos sociais), de Capital Cultural (a valorização
advinda por determinados padrões culturais) ou de Capital Político (a
valorização dos contatos que se tem na agenda do iphone).
A valorização que atribuímos a cada Capital é variável em
função da idade, das instituições envolventes, ou da realidade macroeconómica. Uma
jarra do calcolítico é um caco para uns e uma preciosidade para outros. Um
licenciado ou mestre vale hoje muito menos do que há trinta anos. Mas pertencer
ao grupo certo pode valer muito na hora de ter determinado lugar. A criança
valoriza mais o Capital Social do que o Capital Cultural, ao invés do cidadão
com mais idade. Como o capital fundiário (a terra) vale hoje muito menos que
bons depósitos a prazo. Antes a palavra honrada era um ativo, logo expressão de
capital. Hoje, a aparência, a ilusão da petulância ou a pseudo-chamada para o
‘amigo’ tem maior cotação. Como se pode ver, nestes exemplos tão simples e tão
inocentes, o capital que ontem valia tanto, hoje pode valer muito menos. Em
contrapartida, o depósito de valor – logo, o capital – que ontem tão pouco
valia, hoje pode valer muito mais. Coisas de capitais, inclusive capitais
territoriais que às segundas-feiras valem tanto e às sextas-feiras tanta gente
afugentam.
O “International Journal of Social Economics” vai publicar
um artigo que co-assino com Teresa Pereira e Cristina Moreira, intitulado “THE
IMPORTANCE OF NEW FORMS OF CAPITAL IN NONPROFIT ORGANIZATIONS – A CASE STUDY OF
THE FAFE DELEGATION OF THE PORTUGUESE RED CROSS”. Neste artigo, inquirimos os
colaboradores e voluntários da Cruz Vermelha de Fafe sobre a importância que
dão às diversas expressões de capital. O resultado dos inquéritos distribuídos
demonstrou que a par da relevância do Capital Financeiro, os inquiridos
manifestaram uma importância saliente no Capital Social e no Capital Humano,
como imprescindíveis para a sustentabilidade da organização mas também para a
própria capacitação. Assim se demonstrou metodologicamente como os novos
tesouros (isto é, as novas reservas de valor) já não são só os que se escondem
na matéria. Porque, como Mateus escreveu, onde estiver o teu tesouro, aí estará
o teu coração.
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