Num mundo que devora informação
sem a digerir convenientemente, cada vez mais premeia aqueles que a escolhem
para os outros. Neste mundo de tempo limitado e informação, dados, opiniões e
‘posts’ quase incomensuráveis, o aparecimento dos ‘rankings’ veio trazer uma
espécie de listagem onde todos estão listados em qualquer lado, onde qualquer
instituição está passível de ver o seu nome numa pauta para cujo exame não se
candidatou e onde qualquer país, seleção nacional ou conjunto de alunos pode
ficar catalogado com um dado valor que demorará tempo a desvincular.
Na Ciência Económica, a
utilização e a justificação dos ‘rankings’ não é novidade. Desde os índices bolsistas
até aos famosos ‘rankings’ das dívidas soberanas, rara é a realidade imune à
tentação da ordenação. Se, por uma via, estamos habituados, desde os bancos da
escola até ao desempenho desportivo nos campeonatos, a estudar ‘rankings’
porque os mesmos não hão-de aparecer para as demais realidades? Mas, por outra
via, nas classificações dos campeonatos desportivos ou nas pautas escolares só
aparecem os candidatos inscritos e no entanto em diversos ‘rankings’
económicos, empresariais ou industriais não é raro aparecer uma empresa ou uma
entidade listada sem, aparentemente, os seus gestores terem sido abordados.
Perante este paradoxo, que em
termos legais pode raiar às questões do direito à privacidade de dados, a
explicação convencional, importada do lado de lá do Atlântico (muito mais
familiarizados a olhar para o marcador do que para o campo ou a emocionarem-se
com a dança dos números e depois com a agilidade dos atletas) tem três bases. A
primeira base, muito discutida e discutível, assume que todos têm interesse em
revelar dados, isto é, uma empresa, uma ‘holding’ ou um país ganha em toda a
frente se for transparente, se revelar os seus valores e se os expuser à
discussão pública. Pelo contrário, empresas, ‘holdings’ ou países de quem
ninguém nada sabe são associadas a ditaduras ou a realidades paralelas ou
subterrâneas. A segunda base, também muito discutida e muito discutível,
pressupõe que todos os listados – tenham gosto ou não em estarem na lista –
terão incentivos adicionais em melhorarem a sua posição após a publicação do
‘ranking’. A terceira base – e como as anteriores, muito discutida e discutível
– assume que a dança de posições é de soma nula: o gosto que eu tenho por subir
anula o aborrecimento que tens porque desceste.
No entanto, se ‘rankings’
multidimensionais – como o Índice de Desenvolvimento Humano ou os Índices de
Transparência Fiscal ou de Perceção da Corrupção não angustiam muita gente nem
promovem brados de alegria noutros tantos, já as reações postas em ‘rankings’
como os da Dívida Soberana ou os da FIFA e da UEFA não são tão passivas. A
razão não é única mas tem duas orientações. A primeira é a da Responsabilização
pelo Comum. Enquanto o IDH revela uma realidade de todos, partilhada por todos
num país e em certa medida por todos os partidos, já nos ‘rankings’ sobre a
Dívida Soberana é muito mais fácil atribuir vitórias ou derrotas a alguns.
Logo, quanto mais lato for um Índice menos reativo ele é. A segunda orientação
é de dinâmica emocional. Mudanças de posições no IDH do país podem ocorrer de
ano para ano mas mais importantes são as mudanças ao longo das décadas. Já as
mudanças nos mercados bolsistas ou nos rankings da FIFA e da UEFA ocorrem com
muito maior frequência – o que interessa ao tempo mediático e a outros ritmos,
como o do ciclo político.
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