quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Sobre o micro-incómodo






O microcrédito introduziu novas oportunidades para negócios, desenvolvimento socioeconómico e empreendedorismo em todo o mundo. Como consequência, existe um número crescente de estudos discutindo os efeitos de iniciativas de microcrédito na vida dos mutuários, no bem-estar de suas famílias, e nos níveis de desenvolvimento dos espaços socioeconómicos em redor.

No entanto, a sustentabilidade das empresas financiadas por ferramentas de microcrédito emergiu como um tema complexo. Há um número significativo de exemplos de muito sucesso em todo o mundo que tiveram/têm dezenas de anos de atividade. Mas a maioria dos dados identifica uma expectativa de vida curta para iniciativas financiadas por microcrédito, identificadas como microempresas ou microiniciativas.

Alguns padrões foram observados em todo o mundo em microempresas / pequenas e médias empresas (PME) suportadas por microcrédito. Estes projetos tendem a ser negócios baseados numa alta rotatividade (ou seja, com altas taxas de mortalidade e nascimento), os empresários são proprietários únicos, geram baixa receita fiscal e são geridos por empreendedores com recursos administrativos limitados. Essa combinação de características tem sido observada como um conjunto de causas que explicam a curta sobrevivência dessas iniciativas.

Foi publicado, já em 2020,  na Applied Economics o meu estudo “On the different survival rates of Portuguese microbusinesses – the case of projects supported by microcredit”. Aí revelo que existem fontes de interesse adicionais para o caso português de microempresas ou PME financiadas por microcrédito. Existem características pessoais da(o) microempresária(o) consideradas como estatisticamente relevantes para o sucesso do projeto que ainda não foram devidamente debatidas na literatura. Evidência equivalente foi debatida em relação ao peso dos custos - nomeadamente fiscais. Mas também dos custos de localização.

E aqui os microprojetos ensinam-nos que locais vizinhos geram taxas de sobrevivência muito diferentes. Porque uns olham para os empreendedores locais como fonte de valor, de preservação cultural mas também de estímulos de inovação. Outros olham para os microempreendedores locais como o parente pobre que mancha a família, a feia da fotografia ou – em reminiscências maoístas vá-se lá saber porquê – como o atavismo vindo do Passado que como uma árvore incómoda importa abater na paisagem.

Por isso, Business Centers como o Brigantia EcoPark – em Bragança - crescem em valor, em emprego gerado e em contratos celebrados. Fazendo de microempreendedores e de microempresas iniciativas de sucesso que atraem do melhor para o interior do país.

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