Já Santo Agostinho dizia – querer
sem poder, é impotência; poder sem querer, é malícia. Tal aforismo aplicava-se
à generalidade dos atos de Bondade enquanto expressões da vontade humana. Desde
a afetividade até à Política. Querer fazer o Bem e não o Poder fazer, é
Impotência; mas poder fazê-lo e não o querer, é já malícia.
O italiano Inácio Silone,
aproveitando esta base, sugeria que para a Política ser bem feita precisava de
três dimensões – Capacidade, Vontade e Coragem. Capacidade de fazer bem, de
iluminar bem as ruas de uma cidade ou das relações entre as pessoas. Vontade de
o fazer. E coragem de cortar com as pressões dos grupos instalados, dos que
desejam mal ou desejam o mal. Em última análise, a História premeia os
Políticos Corajosos, o Voto premeia os Voluntariosos e as Finanças os Capazes,
como também referia.
Sentimos todos que os nossos
sentidos de Democracia vêm sendo questionados. Podemos aceitar os que dão
soluções imediatistas – os denominados populistas – quando sabemos que os
problemas são complexos? Podemos aceitar os tempos de urgências diferentes
sentidas pelas populações que convivem com a profunda desigualdade
sócio-económica, o arrepio dos direitos e a lentidão dos processos
administrativos e burocráticos? Em suma, os totalitarismos são – na grande
maioria dos exemplos – as respostas dos audazes às falências das instituições
parlamentares.
Jacques Maritain foi um francês
que, vivendo as duas Guerras Mundiais, o percebeu. Vindo de uma infância
protestante, pouco a pouco, aproximou-se do Catolicismo e chegou à década de
1950 como um dos filósofos cristãos mais influentes, lançando as sementes da Comunidade
Europeia e as ideias ecuménicas do Concílio Vaticano II. Escreveu uma obra dura
– Cristianismo e Democracia, na qual diz claramente que sem raízes cristãs a
Democracia não pode vingar. Inclusivé aqueles que fazem da Democracia a própria
Religião perceberão que o afastamento do cristianismo trará a debilidade da
política democrática, transformada pouco a pouco no totalitarismo.
Assinei com o Pedro Seixas
Miranda o artigo “Christianity, democracy, and Maritain: a reading of a path of
meetings and retreats” publicado neste ano na International Review of
Economics, em cujo Conselho Editorial estão Prémios Nobel como Amartya Sen ou
Joseph Stiglitz. Nesse artigo, dissecamos a atualidade da obra de Maritain e
sobretudo a atualidade do seu argumentário político-económico. E o que
surpreende é como tal obra, cada vez mais, se vem tornando atual.
Neste período assim propício,
desejo a todos Festas Felizes! E que todos possam e queiram. E que sejam
corajosos, porque cada vez mais para fazer o Bem (e fazê-lo bem) é necessária
coragem.
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