Ao longo da minha carreira, tenho visitado inúmeras academias. Obviamente, além das instituições de ensino superior portuguesas – que praticamente conheço na larga maioria – refiro-me também a um número elevado de academias estrangeiras. No entanto, fazendo-o a convite delas para lecionação de unidade curriculares de Mestrado ou de Doutoramento ou na participação em Congressos ou em Seminários, devo desde já fazer uma correção. Uma academia não é de nenhum país, pois o trabalho desenvolvido por um académico visa romper as fronteiras e aspirar ao bem de todos. Assim, um trabalho de um investigador em Portugal promove, sem dúvidas, o bem-estar de comunidades na Índia e o trabalho de um investigador no México, mais cedo ou mais tarde, trará consequências para um residente em Portugal. Portanto, será sempre contranatura ou simplista condensar uma academia a um local, a uma época, a um conjunto de limites. O trabalho de Pedro Nunes possibilitou também que o homem pisasse a lua assim como o de João de Barros que Fleming descobrisse a penicilina.
Outra ideia que desfaço nos meus alunos logo nas primeiras aulas refere-se ao conceito de uma “Universidade grande” ou uma “Universidade pequena”. Uma Academia – enquanto comunidade de cidadãos com funções simultâneas de investigação, ensino e desenvolvimento envolvente – não é grande ou pequena. Grande ou pequeno são palavras adjectivas que apelam à densidade de massa, portanto de matéria quantificável. Uma Academia reúne – não tanto massa crítica – mas sobretudo visões sobre a Ciência, sobre a Explicação do que nos envolve. Uma Academia será assim mais próxima de um parlamento, de uma ágora, do que de uma masseira. E como aquilo que nos envolve não pára de se desenvolver, as visões mais justas são visões de mudança, de crítica sobre as visões do passado que não explicam de modo suficiente o tal mundo á nossa volta.
Logo, dizer-se que uma Universidade é grande ou é pequena servirá para comparações mesquinhas, de assuntos mesquinhos. Uma Universidade ou é Academia ou não o é. E para sê-lo não está contingente a espaços ou a tempos. O trabalho dos seus académicos – tantos que nos legaram o melhor de hoje em gabinetes que consideraríamos modestos senão míseros e em instituições sem metade das condições que hoje exigimos para um café – é mais ou menos conseguido na medida em que as mulheres e os homens dessa academia o fazem com a paixão de romper os limites, as amarras, as prisões. Uma Universidade é uma Academia quando, mais do que números de alunos, mais do que rankings de publicações ou mais do que mediatização dos seus produtos, trabalha em prol do homem e da mulher que vivem por perto ou que vivem nos antípodas, em prol das comunidades de amanhã e em prol do conhecimento dentro de dois séculos.
Porque mais importante, na Ciência como na Vida, do que a vaidade dos que passam hoje é termos a certeza que o Amanhã será melhor. E para isso plantamos aquela tamareira que só aproveitará aos netos dos bisnetos. Levando-os a plantarem mais tamareiras em prol do dia que virá sempre depois.
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