A capacidade das empresas em
criarem emprego (sobretudo de alto valor acrescentado) é uma das mais
importantes externalidades sociais da atividade empresarial. Além de gerarem
estímulos na qualidade dos produtos oferecidos, além de transmitirem mensagens
indiciadoras de novas tendências comportamentais e de veicularem uma
reordenação das nossas opções enquanto consumidores, as empresas têm a tal capacidade
de alavancarem a vontade individual de colaboração em esforços mais eficazes,
porque feitos em conjunto, porque feitos com a tecnologia apropriada e porque
feitos com a organização devida.
Por isso, aplaude-se os estímulos
ao bom empreendedorismo, mas muito mais a capacidade de atrair grupos
industriais. Fui convidado pela Universidade de Cork (onde T. Boole foi um dos
mais reputados professores) para lecionar num ciclo de seminários focado nos
desafios da Economia Regional e nos Serviços Digitais. Esse ciclo decorreu na
primeira quinzena de março deste ano. Além da partilha de alguns dos principais
avanços da minha investigação publicada internacionalmente, tive oportunidade
de contatar com informação privilegiada sobre a realidade sócio-económico irlandesa.
Realidade muito estimulante para debate, não só dada a qualidade das taxas de
crescimento irlandesas – o famoso “Tigre Celta” – mas também a vitalidade e a
importância do Terceiro Setor bem como o paradoxo de os desportos
amadores/galaicos serem muito mais assistidos e relevantes que os desportos
profissionais.
Num dos debates, constatei um
dado impressionante – o PIB irlandês cresceu no primeiro trimestre de 2017
quase 20%. Obviamente, este aumento corrigido/anualizado será reduzido mas
contribuindo no mínimo para colocar a Irlanda como um dos campeões europeus de
crescimento económico quando 2017 terminar. A razão para número tão
impressionante? Teriam os consumidores irlandeses aberto os cordões à bolsa?
Teria o governo irlandês aumentado os gastos? Teria o Brexit decorrente levado
a um aumento do valor das exportações irlandesas? Não.
A resposta está no investimento.
A Irlanda recebeu neste trimestre a deslocação de algumas das sedes de grandes
holdings de software a nível mundial. O investimento aumentou não só no
momento, como na antecipação de outros contratos, o que se traduziu num
movimento consequente na bolsa nacional. Com esta deslocação, outras empresas
aproveitaram o momento de comensalismo e foram atraídas pelos sinais que os
“tubarões” deixaram. Logo, gerou-se um cenário de investimento contínuo que
perdurará por anos. E - sim – estamos a falar da Irlanda que recentemente fora intervencionada
pela Troika.
Logo, enquanto as nossas
economias – quer a dos parques industriais/regionais/municipais até à do país,
não conseguirem sair do pseudo-empreendedorismo de ‘ateliers de formação’ ou de
‘centros de dia’ distribuidores de pastas de papel com caneta eleitoralista,
não conseguiremos desengripar o motor do ‘investimento’ – isto é, o motor dos
gastos que fazemos para usufruir bem mais tarde – e continuaremos com ciclos de
crescimento curtos. Curtos de prazo e curtos de vista.
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