Há uns anos, um selecionador europeu notou que havia grupos
de jovens africanos debaixo dos postes de iluminação de uma capital africana. A
primeira ideia seria a do tráfico ou a de outro tipo de associação pouco
meritória. Na realidade, aqueles jovens, sem luz em casa, aproveitavam a
iluminação pública para estudar.
Esta história mostra a importância do ‘efeito hotspot’. Em
Economia, o efeito hotspot indica que tendemos a concentrar a atenção sobre
aquilo que é iluminado e que está no nosso raio de alcance. Assim, não é de
estranhar a concentração de Árvores de Interesse Público em concelhos com delegações
dos Serviços Florestais, de candidaturas a financiamento comunitário bem
sucedidas em espaços com consultoras com histórico de sucesso ou a concentração
de Ministros e de Secretários de Estados em distritais com especial peso
político (isto é, com iluminação hotspot).
Quando olhamos para a distribuição de uma variável num mapa
(por exemplo, no mapa de Portugal), tendemos a encontrar ‘manchas de côr’: as
concentrações destacadas a tonalidades mais escuras que se vão esbatendo à
medida que observamos espaços com menores valores dessa variável. A esse fenómeno,
chamamos autocorrelação espacial positiva. Uma variável com clara evidência de
autocorrelação espacial positiva é a densidade demográfica.
No entanto, quando olhamos para o mesmo mapa - agora
cobrindo uma outra variável - e encontramos pontos de concentração muito forte
espalhados pelo território sem continuidade nos espaços mais contíguos temos o
’efeito hotspot’. Por isso, há concentração de dispositivos eletrónicos ou de
cyber-utilizadores nos cafés com wi-fi ou nas varandas dos prédios das zonas
universitárias.
Assim como o epifenómeno identifica os mega-eventos que
acontecem num espaço uma vez por ano, o epicentro económico tende a ser um ‘hot
spot’ que desenvolve de um modo intenso a economia dos locais imediatos mas
que, como um eucalipto, tende a secar tudo em volta. Mas, como discuti
recentemente num Seminário na Universidade de Milano-Bicocca, existe muita vida
nas profundezas dos oceanos, isto é, em termos económicos, nos espaços de
penumbra onde muitos sobrevivem nas sombras. Em termos de Economia laboral, o
tema que aí discuti, fatores como a experiência, a idade certa, um passado de
resistência mas também um certo brio individual, fazem com que nas profissões
mais competitivas se consiga sobreviver longe dos holofotes, dos pódios, e do
poder. Pilotos de Fórmula 1 como Andrea de Cesaris, Nick Heidfeld ou Martin
Brundle são claros exemplos de homens que nunca ganhando uma corrida na F1
contaram muitas mais provas que outros pilotos que no entanto subiram ao lugar
mais alto do pódio. Flores como as violetas ou as camélias crescem melhor nos
espaços húmidos e sombrios.
Portanto, mesmo que não se possa estar debaixo da luz,
existe a solução dada pelos Pink Floyd (em ‘Eclipse’): "There is no dark
side of the moon really. Matter of fact it's all dark." Questão de Ótica.
De espetro artístico, de palete política, ou de daltonismo.
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