O Papa Francisco veio a Fátima.
Muito se escreverá sobre a sua passagem, marcando geralmente a década seguinte
na qual não será crível que o Papa regresse a Fátima, considerando a média de
uma viagem por cada 10 anos desde a primeira visita, a do Papa Paulo VI.
Nestes dias subsequentes, ainda a
‘quente’, retenho Sete palavras/Silêncios de Francisco, além do sucesso e da
esperança de termos mais dois Santos Portugueses (Francisco e Jacinta Marto).
A primeira expressão é a da
sobriedade de Francisco. Não estive no recinto e portanto assisti às
Celebrações pela televisão. E pela televisão pareceu-me que Francisco veio como
uma pessoa séria, como Peregrino religioso, não como Peregrino profano, ufano
ou descomprimido. Veio tenso como qualquer um de nós quando vai ao médico. Não
veio em excursão, veio em peregrinação.
A segunda expressão é a anafórica
preferência de Francisco pela Periferia. A periferia, sem entrar na
complexidade do termo epistemológico, é o espaço cinzento, onde o centro começa
a deixar de ser centro, é o espaço de fronteira, é o espaço do limite, é o
espaço dos muros. Francisco vaticinava no dia 12 que “seremos peregrinos de
todos os caminhos, derrubaremos todos os muros e venceremos todas as
fronteiras, saindo em direção a todas as periferias, aí revelando a justiça e a
paz de Deus”. Fátima é aquela ágora que não vive só com os Filhos, só com os
católicos praticantes. Portanto, Fátima é aquele espaço de periferia também que
melhor pode contagiar/irradiar para lá do muro.
A terceira expressão é o silêncio
(que o mediatismo considerou longo) na chegada de Francisco à Capelinha.
Francisco esteve vários minutos recolhido, de olhos fechados, diante da imagem
de Nossa Senhora de Fátima. O mundo apressado dos nossos dias considerou este
silêncio longo. Os minutos publicitários das televisões consideraram-no de
valor enorme. Mas Francisco mostra que tantas vezes o Silêncio é a melhor
Oração. O encontro no indizível entre a Criatura e o Criador, o espaço de
nudez, uma imagem de morte para o mundo e de Vida para Deus.
A quarta expressão é o
reconhecimento de Maria como revolucionária. Uma revolução que só as Mães e
quem Ama conseguem. Disse Francisco em Fátima “Sempre que olhamos para Maria,
voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho”. No mundo
que faz a guerra pelo terror, pelo barulho e na rua, Maria é a revolucionária
que toca com ternura e com carinho. Vindo de uma das pátrias da Teoria da
Libertação, não sendo estranho ao pensamento revolucionário sul-americano e
tropical, Francisco reconhece em Maria Aquela que muda tudo com carinho e não
com a explosão.
A quinta expressão é a do chicote
no Templo. Se Maria revoluciona pelo carinho, Francisco pergunta se Maria é “A
‘bendita por ter acreditado’ sempre e em todas as circunstâncias nas palavras
divinas, ou então uma ‘santinha’ a quem se recorre para obter favores a baixo
preço?”. Questão teológica, dirão alguns. O pior é que somos nós a respondermos
e a caracterizar ou a caricaturizar Maria na nossa atitude de hoje perante os Próximos
dos próximos Cem anos de Fátima.
A sexta expressão é a de recordar
Maria como Mãe: “Temos Mãe” (na Homilia do dia 13) rejeitando a imagem de uma Hera
ou de uma Diana pagãs “segurando o braço justiceiro de Deus pronto a castigar”.
Finalmente, a sétima expressão é
o equilíbrio. Francisco veio distinguir, salientar e definir o papel de Fátima
na Igreja, de Maria no Evangelho e do Peregrino na Fé. Tornou claro aquilo que
de tempos a tempos vem ficando toldado. “E no centro de tudo esteve e está o
Senhor ressuscitado, presente no meio do seu povo na Palavra e na Eucaristia.
Presente no meio de tantos doentes, que são protagonistas da vida litúrgica e
pastoral de Fátima, como de cada santuário mariano.” Disse Francisco, no
regresso.
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