A Liga Inglesa de 2018/2019 vai
encurtar a janela de transferências de importação. Isto significa que os clubes
ingleses terão de fechar os negócios relativos a contratação de novos jogadores
antes do apito inicial do primeiro jogo agendado para aquela época. No entanto,
muito pouco ainda foi definido em termos de exportação que continuará a ser
permitida dentro das regras dos mercados adquirentes de talentos britânicos. Na
prática, faz-se aquilo que tantas vezes a Inglaterra tem feito e- curiosamente
– com mais prejuízos para a generalidade dos ingleses do que propriamente com
benefícios líquidos: os entraves à importação.
Quando a Inglaterra, em meados do
Século XIX, decidiu barrar/dificultar a importação da maquinaria germânica, que
chegava aos portos britânicos com a reputação de fiável e duradoura, usou de
várias ferramentas – desde decretos reais até vandalização. Foi nesse período
que surgiu o rótulo ‘Made in…Germany’ com intenções xenófobas que visavam
encarecer a aquisição de material alemão com custos de depreciação social. O
problema é que virou-se o feitiço contra o feiticeiro – e o rótulo depreciativo
acabou, na prática, por se transformar num slogan mediático que acelerou a
identificação das importações vindas da Alemanha e consequentemente a sua
aquisição pelos pequenos industriais e clientes domésticos ingleses. Como vários
autores de então comentavam, o patriotismo é mais fácil de vingar nos campos de
batalha do que nas casas dos soldados.
Dado o peso económico do mercado
inglês no mundo do futebol, sobretudo em termos de folha salarial e de
negociação dos direitos televisivos, a colocação de entraves de janela temporal
vai, na prática, fazer render ainda mais o negócio daqueles que estão dispostos
a alargar as barreiras para quem está disposto a pagar. Já que não vai ser tão
fácil esperar pelos dias finais de agosto para o encerramento das contratações,
o valor a pagar pela observação e agenciamento dos jogadores deve subir
claramente. Os ‘Managers’ pensarão – queremos os melhores jogadores quanto
antes! E por isso, toda a equipa de scouting espalhada pelo mundo vai exigir
compensações adequadas pela descoberta mais cedo do maior diamante – polido ou
em bruto. Os rumores terão rotação mais acelerada, os treinadores ingleses uma
maior definição dos plantéis em perspetiva e a imprensa da especialidade terá
maiores certezas na edição das revistas de lançamento da época desportiva.
E o que ficará para as restantes
ligas? Ligas igualmente poderosas como a Espanhola ou a Italiana na prática
terão efeitos pouco significativos. Os grandes clubes procurarão assegurar as
melhores aquisições quantos antes como tem sido até agora, pois, além da
pressão do agenciamento e da instabilidade dos rumores haverá adicionalmente a
certeza de que uma Liga importante fechará o seu mercado de aquisições mais
cedo. Os ‘bons jogadores’ sobrantes da Liga inglesa curiosamente ficarão a
perder – nada pior no jogo da reputação ter fama de ‘admissível’ e depois não
ser admitido. Vários estudos no campo da Teoria dos Jogos e na Economia
Experimental tem mostrado como este tipo de situações leva a uma desvalorização
significativa do bem ou serviço em causa que pode cair para mercados
terciários. E é aqui que entra Portugal, que poderá ficar a ganhar com as
‘pechinchas’ – jogadores com nível de Liga Milionária mas que, por mau agente,
mau tempo ou má sorte, não conseguiram inscrição na Liga desejada, no devido
tempo.
Afinal, quando a lotação de um
bar está no limite máximo, existirá sempre não muito longe algum outro disposto
a servir um café.
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