A “Questão Catalã” trouxe ao
debate europeu o tema dos nacionalismos/regionalismos que desde a “Questão
Escocesa” tinha parecido ficar em pendência. Para nós, portugueses, a unidade
deste país parece simples de entender (jamais negligenciando a tensão açoriana
ou madeirense que parece arrefecida – curiosamente, neste período de maior
atenção sobre a Catalunha, Marcelo Rebelo de Sousa visitou os Açores…) No
entanto, a literatura sobre o tema tem elencado um conjunto de hipóteses
organizadas em teorias mais ou menos interdisciplinares que sugerem o
recrudescimento destas tenções na observação de um triângulo de forças: a
região separatista ter uma densidade demográfica e de ativos financeiros
considerável, o centro ser visto/efetivamente um beneficiário líquido face à
região independentista (facilmente mensurável em termos fiscais) e finalmente a
mesma região estar munida de ‘conforto reativo’- no passado significando
homens, armas e aliados, hoje em dia, significando política, diplomacia e
gestão mediática.
Quando Afonso Henriques, Paio
Mendes, Gonçalo Mendes da Maia, João Peculiar e quantos outros – como os hábeis
Moniz – decidiram ser ‘autónomos’ e depois ‘independentes’ do suserano
imperialista de Castela, o torrão que era o Condado Portucalense era dos espaços
mais densos, mais ricos e mais dinâmicos da instável Ibéria do Século XII.
Quando o Brasil concretizou a Independência do Reino de Portugal, estes três
vetores eram sobejamente compreendidos pelos intervenientes de então. Os
exemplos da História Mundial são diversificados – e vão desde os EUA com os
colonos independentistas liderados por Washington até aos puzzles dos Balcãs,
da América Latina ou do Medio Oriente.
Por isso, quando os residentes de
determinado espaço percebem o amadurecimento da sua riqueza, das suas ideias de
‘Nação comum’, a definição da capacidade de resistência à contra-reação do
Centro ou a impertinência fiscal do Império, os mesmos assumem posições
independentistas. Dizia-me um colega da Psicologia que é muito parecido com a
chegada à Idade Adulta dos indivíduos – quando se sentem financeiramente
confortáveis (o vetor da densidade de riqueza), quando sentem o suporte mental
de assegurarem a sobrevivência social sozinhos (o vetor do conforto reativo) e
quando sentem que se aborrecem mais em casa paterna do que fora (o vetor dos
benefícios líquidos) tendem a entoar ‘I want to break free’.
Resta saber – no adolescente ou
no trintão, na Catalunha ou na Escócia – se as expetativas são certas ou não.
Parafraseando o barroco Descartes, mesmo a certeza tem o seu grau de dúvida. E
este nunca é o mesmo para todos os seres humanos.
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