Uma das tarefas mais
interessantes na vida de economistas e gestores é a elaboração de orçamentos.
Quer sejam orçamentos de multinacionais quer de pequenas empresas, é um
exercício fascinante – ainda mais do que a elaboração do Orçamento do Estado.
A razão principal é a mesma de um
andaime numa obra. Colocam-se andaimes para os operários laborarem em
segurança, enquanto a obra decorre. Ninguém quer que os andaimes fiquem à
mostra no final da obra mas também ninguém quer que decorram acidentes durante
a obra. Da mesma forma, ninguém quer que o Orçamento se mostre deficiente como
um andaime que não nos deixa chegar lá mas, em contrapartida, todos ficam
satisfeitos quando o andaime serviu para se fazer um belo monumento.
A probabilidade de um orçamento
ser executado à risca, neste caso - aos cêntimos - é quase tão grande como a de
se acertar numa chave de um totobola. Portanto, economistas e gestores não são
responsabilizados por acertar no alvo mas antes por desiludirem geralmente
porque se enganaram em grande escala na previsão das despesas ou na evolução
das receitas. Aí, conclui-se que, afinal, o andaime estava vacilante e a obra
toda pode ruir.
A apresentação de orçamentos (e
discussão e votação em assembleias concorridas) é uma manifestação vital de
qualquer coletividade. Pelo contrário, a não apresentação e votação dos mesmos
tende a estar associada a desinteresse da coletividade pela expetativa de
atividade em análise, pela concentração ditatorial da vida da coletividade no
iluminismo de alguns decisores ou pela desculpa em relação a maus resultados do
passado. Podemos assim assumir que um orçamento é um elemento fático que, muito
provavelmente com –algum – erro na execução revela, se discutido e votado, um
momento de valor que mostra um dinamismo essencial da coletividade, da empresa,
do país.
Um dia, perguntaram ao tesoureiro
de uma confraria se não tinha medo de errar as contas para o ano seguinte
quando apresentava as provisões para esse período. “Medo de errar, não”,
respondeu ele. Fez-se silêncio para se ouvir do fundo da sua voz de quase
noventa anos – “Medo tenho de daqui a um ano não responder por estas contas”.
Portanto, um orçamento mostra
que, no fundo, bem no fundo, nós queremos chegar ao fim do jogo para saber o
resultado. Como “O Jogador” de Dostoievski sabia, a emoção de prever a aposta é
tão-só pedir emprestado à vida um tempo mais para perceber o nosso erro. Ou o
nosso acerto.
Boas Festas!
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