Paulo Reis Mourão
(Professor do Departamento de Economia da Universidade do Minho)
Há umas semanas, o País ficou a conhecer uma coletividade de pressão denominada Movimente pelo Interior. Não foi surpresa para mim. Surpreende-me no entanto o teor das várias mensagens que vários dos seus elementos tem transportado.
Por uma via, há o reconhecimento público de algo que a Academia e a Sociedade Civil vem identificando há décadas: despovoamento, concentração dos jovens no litoral, ciclos viciosos vários, desequilíbrios territoriais, ameaças de custos significativos para as áreas metropolitanas, etc etc. Por outra via, com alguma inocência (que não sei se será malícia), existe o estender da mão ao Poder Central que, curiosamente, está – pasme-se – no Litoral. Finalmente, parece existir uma estratégia de desculpabilização política pelo fracasso anunciado para as próximas décadas nas regiões a leste do semimeridiano de 8 graus Oeste, tipo “Nós, em 2018, ainda tentámos mas…”
Fruto de muita reflexão pessoal e de discussão com quem não gosta de viver das esmolas intelectuais nem culturais, pertenço a um conjunto de investigadores que reconhece causas diferentes e soluções distintas para o problema. A primeira causa resulta de um dos Valores primários da nossa sociedade – a Liberdade. As pessoas são livres também de se moverem e de ‘votarem com os pés’. Como se sentem mal, ou não se sentem satisfeitas, mudam-se para outros lados do país e do mundo. Poderíamos criar custos de deslocação como a esfera soviética fazia mas parece-me que ninguém quer isso. A segunda causa resulta de outro Valor maior – o Desenvolvimento. O país hoje está melhor do que há 30 ou 40 anos. Fizeram-se Opções e na balança do Deve e Haver concluímos que Abril nos fez melhores, que os fundos comunitários nos desenvolveram, que a Globalização permitiu um alcance ímpar na nossa História. Aumentou o desequilíbrio territorial? O desequilíbrio geracional? A emigração qualificada? Sim, aumentaram. Como se sabe em Economia, todas as opções são consequentes, mesmo vir a público agora reconhecer aquilo que em Setembro último não reconheciam. A terceira causa está noutro Valor maior – a Educação. Todo o nosso sistema educativo está constituído na base/deificação do mérito, da competitividade, do consumo e do lazer. Porque estranhar então se os jovens investem nas áreas, nas universidades e nas cidades que maximizam a sua projeção de cidadania? Quantos dos meus alunos universitários falam com desdém da agricultura, das aldeias e tão tragicamente de termos como solidariedade, abandono, ou desequilíbrio? Mais uma vez, as Opções do passado tem consequências no Presente.
Por isso, infelizmente, este Movimento é um nado-morto. Ainda que algumas vozes, por vezes com tanta inocência que até parece malícia, se juntem, este Movimento peca por reconhecer o óbvio (e logo é supérfluo), por ser incapaz (porque sem meios e com atuação limitada ao espaço de opinião pública e de ir a reboque dos projetos que o Governo pré-anuncia) e por ser tão bem-intencionado como qualquer boa intenção (portanto, banal). Ao invés, premeiem todos os que ficam, todos os que investem, todos os que apoiam o Próximo, todos os que não saem do Interior, mesmo empobrecendo, mesmo perdendo tempo, mesmo teimando. Celebrem Bodas de Ouro e de Diamante dos cidadãos que vivem a leste dos 8ºW há mais de 50 e há mais de 75 anos, deem-lhes reconhecimento, aplaudam-nos.
Agora, não sejam banais ou triviais, porque até aí, a banalidade vinda do Terreiro do Paço parece mais chique do que a voz do Calisto Elói ou do Morgado de Fafe antes de passar o Mondego.
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