Poderíamos falar de uma tendência
universal. Porque o Preconceito o é. Diversos estudos – da Psicologia das
relações interpessoais até à Psicologia diferencial ou à Economia da
Informação, reconhecem que todos somos preconceituosos. Obviamente, em níveis diferentes
e com consequências diferentes. Já José de Alexandria referia o teste
tripartido do preconceito: - Casarias a tua filha com aquela pessoa? Passearias
na rua com aquela pessoa? Darias a chave da tua casa àquela pessoa? – Se
responderes não a uma ou mais dessas questões, então tens pré-conceito sobre
essa pessoa. Que, à partida, é uma previsão (racional) que fazemos sobre algo
ou alguém sem precisar de mais provas.
Também, eventualmente, ao longo
da vida, todos fomos vítimas de preconceito. Quer o saibamos quer o
desconheçamos. Quando alguém não nos preferiu, não quis sentar-se na nossa mesa
ou fez de conta que não nos viu, fomos vítimas de preconceito. Preconceito
racial, difamatório, plutocrático,
partidário, religioso ou estratégico. Mas sempre, preconceito.
Na maioria das vezes, e nas
nossas sociedades ocidentalizadas após a II Guerra Mundial, o preconceito não
agrediu – em massa – grupos étnicos ou sinalizados como antes o tinha feito. No
entanto, os novos Extermínios, os novos ghettos e as novas xenofobias têm o
condão de limitar a mobilidade social, o acesso aos padrões de conforto por
parte de alguns, de levar a uma certa emigração (quase forçada) e a um certo
abandono dos mais fracos. No fundo, quanto do nosso tempo damos aos mais
velhos, aos mais pobres, aos mais sozinhos, aos mais estúpidos e aos mais
rejeitados? Não damos tempo porque não o temos – é a meia verdade. A outra meia
é que não lhes damos tempo porque não gostamos tanto deles como deveríamos se
não fôssemos tão preconceituosos.
A nossa região do interior sofre
de Preconceito. Pode até também ser preconceituosa nalgumas coisas mas séculos
de História de acolhimento – de judeus perseguidos a galegos do Século XIX
famintos e a espanhóis perseguidos na Guerra Civil – fizeram da nossa região
transmontana um exemplo de espaço de acolhimento (que não foi necessariamente
linear). A dependência do Turismo como omni-solução no Século XXI obrigou os
transmontanos a receber turistas também. No entanto, quantos transmontanos
atualmente são pivôs da comunicação social que ostracizou os sotaques para lá
da Linha Sintra-Cascais? Quantos Ministros oriundos ou residentes dos distritos
transmontanos e durienses? Quantos jogadores em qualquer Seleção Nacional de
uma qualquer modalidade? Mas o grande preconceito que a região tem está sobretudo
visível na dificuldade que tem em conseguir que outros enterrem Tempo nela –
que invistam, que casem cá, que não sejam só turistas, que queiram abrir
portões, acender as lareiras, desempoeirar as cortinas e passar serões. E que
não venham só pelo Natal, agarrados ao telemóvel em comunicação com quem está
fora.
Quando Jesus nasceu, os relatos
que nos chegaram mostram-No como nascendo para todos e sendo acolhido
primeiramente pelos rejeitados. Por isso, a Esperança e o Natal serão sempre
especiais nos espaços da Periferia. Boas Festas!
Sem comentários:
Enviar um comentário