Tive o prazer de ser convidado para o encontro “Indicadores
do Presente-Caminhos para o Futuro” que decorreu no Auditório da Biblioteca
Municipal de Alfândega da Fé no passado dia 19 de janeiro. O Auditório teve a
visita de um painel assistente numeroso e atento numa noite fria de janeiro
como a que então se verificou. Revi diversos amigos que me presentearam com a
surpresa da sua presença e fiz muitos outros amigos que não começo a detalhar
com receio de inoportunidade.
O tópico da Palestra que me tinha sido proposto pelo Paulo
Afonso (JSD/Bragança) é um tópico complexo. Surgiu no foco que vários órgãos da
comunicação social regional e nacional deram ao Índice da Economia de
Trás-os-Montes e Alto Douro (IETi) que venho desenvolvendo há um ano e meio.
Este índice recolhe a opinião de um painel representativo da diversidade de
agentes económicos da região e avalia a perceção sobre a evolução mensal de
três dimensões preponderantes para a aplicação dos Rendimentos dos habitantes
dos distritos de Bragança e de Vila Real: gastos em consumo, despesas de
investimento e fluxos de turismo. O valor mais recente do Índice mostra, mais
uma vez, um janeiro onde os agentes económicos retraem as despesas e onde,
sobretudo, a região – apesar do surgimento das ‘Feiras gastronómicas’
vocacionadas para o fumeiro que tão bem sabe nestas alturas – vê menos turistas
a circular.
A Figura abaixo mostra a evolução do Índice da Economia de
Trás-os-Montes e Alto Douro até janeiro de 2019.
Fazendo uma leitura de ciclo anual, é possível verificar-se
que o período entre Março e Agosto corresponde a um momento onde a região apresenta
crescimento nas três rubricas observadas (gastos das famílias, obras e
investimento, e remessas do turismo). No entanto, no período remanescente os
valores mostram decréscimos mensais, com a exceção do pico das semanas em redor
do Natal. Numa análise mais generalizada, podemos constatar que a região não
difere significativamente do resto do país avaliado pelos indicadores
disponibilizados pelo INE sobre o ciclo económico nacional o que nos pode
motivar a uma discussão mais alargada. Se, por um lado, a região tem um ciclo
simultâneo com o do país – muito por força do esforço balanceador das
remunerações dos empregados no setor público que não tem uma disparidade oficial
com os colegas das outras regiões (o que ajuda a explicar a referida
coincidência dos ciclos) – por outra via mostra que não tem existido o tal
ciclo alavancado que a região precisa(va) para crescer mais do que os espaços
vizinhos de modo a convergir com eles. Por outra via, o ciclo percebido para a
região mostra que os rendimentos particulares estão muito dependentes do ciclo
do Turismo com as vicissitudes que eu tenho apontado e que o Auditório recolheu
com especial atenção. Pois o Turismo – que parece ser a panaceia para muitos
opinadores no nosso país e na nossa região – tem uma determinada essência de
‘transitoriedade’, isto é – de passagem. O Turista chega, visita e vai embora.
Muito da receita mal chega – palavras de operadores turísticos que mas fizeram
chegar – para compensar os custos em preparação e limpeza das ações turísticas.
O ideal seria que o Turista virasse Investidor. Que encantado pelo Reino
Maravilhoso deixasse não as ‘migalhas’ de uma tarde ou de um almoço bem regado
mas a significância de um investimento que trouxesse desenvolvimento, emprego e
bem-estar para a região. Com a gravidade que muito do lucro do Turismo da
região é processado e aplicado pelas sedes litoralizadas dos Operadores
Turísticos noutras regiões. Portanto, a mais-valia é escoada para outras
paisagens e paragens.
Além da discussão em torno do IETi, outros pontos de
Desenvolvimento Regional foram focados no debate que se seguiu. Um desses
pontos prendeu-se com as Causas para a atual situação de abandono/esquecimento
da região (aliás, estou a preparar um pequeno Ensaio sobre o Desenvolvimento
Regional do Interior titulado ‘A Economia do Esquecimento’) mas também outros
itens foram colocados no debate, nomeadamente os referidos ‘Caminhos de
Futuro’.
A meu ver, o atual Estado do Desenvolvimento assimétrico do
nosso país tem um Triângulo de responsáveis: a Educação, o Processo de
Políticas seguidas e os Valores dos mais jovens. Passo a detalhar. A Educação
ensina-nos a gostar ou a não gostar. Se os programas escolares (desde o
pré-escolar até ao Ensino Obrigatório e ao Ensino Superior) valorizassem as realidades
de todo o país, mostrando imagens de satisfação, progresso e confiança no
futuro de todas as regiões, decerto umas não seriam preferidas a outras. Mas
não! Por exemplo, quando desfolho o manual de Português do 4º ano do meu filho
mais novo não encontro as temáticas rurais ou as fábulas tão cândidas que eu
lia no meu manual há 35 anos. Posso tentar compensar – como o tento – com mil e
uns recursos que mostrem uma vida do nosso Interior que os manuais de hoje não
mostram. Mas se todos remassem para o mesmo lado o barco tinha uma direção mais
definida… O outro vértice prende-se com o Processo de Políticas seguidas. Durante
40 anos, por cada escudo ou euro investido em Trás-os-Montes investia-se 20
vezes mais no resto do país. Quando a região valia um décimo (até em termos
demográficos) como explicar este desequilíbrio? Tenho uma explicação violenta –
preconceito. E acuso-o sem dúvidas – o país é preconceituoso para com a região,
vista com olhares de sobranceria como algo irremediavelmente desligado dos progressos
da modernidade. O curioso é que no atual século XXI onde tantos canais deveriam
reduzir estas ideias-feitas- e profundamente injustas com o efetivamente
observado na região que evoluiu em conforto, qualidade de vida, longevidade dos
residentes e acessibilidade digital – esses preconceitos não reduziram. Pois
por mais que os cálculos mostrem a exequibilidade e a lucratividade das ideias
de negócio que poderiam florir no nosso Interior, outros acabam por ganhar
concursos e receber atenções prioritárias. Outras marcas do preconceito – o
reduzido/insignificante valor de Ministros ou Secretários de Estado naturais ou
residentes na região nos mais recentes Executivos de São Bento. Finalmente, os
Valores dos mais jovens. Estamos a preparar as novas gerações – nas nossas
instituições de Ensino Superior – para uma qualificação ímpar na nossa história
e no entanto o mesmo esforço está a tirá-los das origens e a trazê-los para uma
concentração nas faixas litoralizadas do país – e nem sempre com garantias de sucesso
pessoal.
Em relação aos Caminhos de Futuro, é necessário que a região
e os seus habitantes compreendam a necessidade de estabelecerem uma Estratégia
de Desenvolvimento. Em primeiro lugar, a figura do Imperativo Categórico – cada
um deve fazer o melhor pela região se se interessa realmente por ela. Muitas
vezes, ficar e apostar na região é o melhor para a desenvolver. Poderíamos ser
marinheiros como a lenda do Sinbad mas preferimos para a região aqueles que
nela ficam, mesmo longe dos holofotes de outras paragens. Em segundo lugar, é
necessário que a região coloque as pessoas certas nos lugares de decisão
certos, seja em Lisboa, no Porto ou noutros espaços. Os sucessivos erros de
‘casting’ tem conduzido a esta aparente perda de influência da região na captação
de investimento público, atenção e até desenvolvimento potencial. Em terceiro
lugar, os concelhos realizarem sinergias na captação de investimento e de
empregos, gerando Agências regionais de desenvolvimento que já deveriam estar
em operação e não ainda em debate. Finalmente, convidar quem interessa para
virem ter connosco – não só o Turista da Trofa ou de Vila Franca de Xira mas o
investidor (também) do Japão, da Lituânia ou do Reino Unido. Por vezes, quem
está mais longe, consegue fazer-se mais Próximo.
Aliás, a própria região – espaço de acolhimento histórico de
judeus, galegos, castelhanos – tem sido uma Mãe que não esquece. Portanto,
sejamos Filhos da Presença e não enteados da Memória.
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