Quando perdemos, tendemos a não gostar. Ninguém gosta de
perder nem a feijões. E sobretudo ninguém gosta de perder algo que lhe era útil
– desde o balão que escapa das mãos das crianças nas festas populares, a
atenção dos namorados ou serviços públicos nas localidades.
Como já os Clássicos Gregos sabiam, custa mais perder depois
de ter do que nunca ter tido o que se perdeu. Por isso, aborrecemo-nos muito
mais quando nos tiram os Centros de Saúde, as Escolas, as Estações dos Correios
e os Tribunais quando tantas vezes a eles recorremos e a eles recorreram os
nossos amigos e familiares.
O pior é que perder em muitos casos não nos melhora. Por
vezes, ‘há males que vêm por bem’, indicando o adágio que perder certas
realidades -desde o mau colesterol até os vícios que se vão alimentando – até
pode ajudar-nos a melhorar a qualidade de vida e a qualidade de vida dos que
nos rodeiam. No entanto, em muitos casos, quando perdemos – desde o tal balão
que sobe-sobe até aos serviços público e – já me esquecia – as amizades, as
paixões, e os tachos públicos – aborrece muito, torna-nos mais amargos, mais
fechados na nossa perda, deprimidos – no fundo, egoístas. Fazemos, no fundo, um
‘luto’ por todas as perdas e nem todos sabem enlutar.
Refleti ao
nível da Economia nestas realidades no artigo “Discussing the intriguing
relation between unemployment and giving practices” publicado recentemente no
International Journal of Non Profit and Voluntary Sector Marketing. Observei
aí como num Famoso índice que se popularizou recentemente – o World Giving
Index – determinados países ficam mais egoístas quando reconhecem um maior
número de desempregados, sobretudo desempregados jovens.
Numa altura em que tantos jovens procuram o primeiro emprego
após a conclusão das licenciaturas, este é o momento em que alguns vão tendo
colocação e muitos lá se vão colocando, enquanto outros nem uma coisa nem
outra. Ao vermos o desemprego aumentar nos que estão à nossa volta, tendemos a
amealhar (não vá o mal bater à porta, pois a esmola de Mateus é sempre primeiro
aos seus) ou tendemos a ajudar? E quando é em nossa casa que temos
desempregados será que nos tornamos mais solícitos ou pelo contrário mais
gananciosos? Deixamos de gostar da nossa terra quando perdemos os tachos que
ela nos deu, entregamos o cartão partidário quando não nos dizem ámen, passamos
a criticar as organizações quando elas não nos convidam para os palanques ou
falamos mal da Susana (da bíblica Susana) porque ela não nos sorriu?
Pensando em grande – quando a nossa região se desvaloriza
será que sabemos reconhecer o valor das outras? Ou fechamo-nos em
regionalismos, ou em nacionalismos, acreditando que só o que fazemos nos aquecerá
no Inverno do descontentamento? No fundo, no fundo, até que ponto o amuo não
revela a nossa verdadeira pobreza?
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