terça-feira, 20 de agosto de 2019

Depois de Aljubarrota




No último aniversário de Aljubarrota, dei por mim a recordar algumas lições deste episódio fundador do espírito de Avis. Em primeiro lugar, Portugal aliou-se a uma nação emergente (então a insignificante Inglaterra no xadrez europeu, e dividida por lutas fratricidas). Em segundo lugar, o papel dos líderes de Aljubarrota foi crucial para animar um povo reticente contra uma aristocracia a lutar por Castela. Por último, o papel dos cronistas que nos legaram Aljubarrota - o quadro belíssimo e inspirador pintado por Fernão Lopes fez de Aljubarrota um momento bíblico para os portugueses (e até para os ingleses), ainda que a revisão histórica mostre que nela entraram também a inépcia/bicefalismo das lideranças franco-castelhanas, um pouco de sorte à mistura para o lado português e um fator que então unia (emocionalmente) as lideranças portuguesas a um povo também emergente: o fervor católico-romano contra o partido de Avinhão assumido por Castelo e pelo Delfim. Resumindo, se Aljubarrota nos pode ensinar? Pode e muito. E as lições têm 3 palavras-síntese: Co-Operação, Alianças Estratégicas e Liderança.
Falemos delas e como as mesmas se aplicam às nossas economias e às nossas regiões.

Cooperação recorda-nos que vivemos em sociedade. Se Sartre recordava que “O inferno são os Outros”, Aristóteles há mais de 2300 anos afirmava que tudo o que é humano é social. As nossas regiões precisam dos outros espaços para o seu desenvolvimento – assim como esses espaços (quer na faixa litoral quer no remanescente da geografia europeia) precisam do nosso valor. Se a perda sistemática de rendimentos, a ‘balança de capitais regional’ cronicamente deficitária ou a ameaça latente de desvalorização do património localizado são ameaças constantes, já por sua vez o sentido de Cooperação deve levar-nos a fazer dos Turistas Investidores, dos Passageiros das nossas linhas coproprietários dos nossos Espaços e dos nossos Emigrantes Embaixadores.
Alianças Estratégicas são o passo seguinte numa dinâmica territorial integrada que infelizmente não existe no país das regiões e na economia das nossas regiões. Uma Aliança Estratégica é como uma Sé/Sede que marca uma Aliança entre os agentes. Uma aliança – simbolizada pelas anelares – perene, simbolizada pelo ouro. Uma Aliança quebradiça, de pechisbeque eleitoralista, que não sai do papel ou dos beberetes e dos croquetes não é uma Aliança – é um exercício insultuoso para o intelecto. Infelizmente, fazem-se Alianças assim, desvirtuando aquelas que deveriam existir entre Empresários, Municípios, Agências de Investimento, Promotores de Projetos e Dinamizadores de Emprego. Criam-se manadas de elefantes brancos onde outrora eram os Parques Industriais, os Parques Tecnológicos, os Parques de merendas eleitorais e de vaidades pessoais de quem se alimenta do contentamento de mediania.
Finalmente, a Liderança. A Liderança – ainda que seja um conceito abusado na Política – não é exclusiva do ciclo político. O Líder é-o também na Oposição. Mas é-o também na Ciência, na Cidadania, no Civismo, na Cultura, na Diplomacia, e na Memória. O Líder não é um Príncipe Perfeito, conceito de modas, aliás. Mas o Líder – mais importante que o cidadão que assume a Liderança – é a força que esse Cidadão/essa Cidadã transmitem na humildade do gesto diário, na qualidade da ação sem exigir o poder enquanto não se esgota o potencial da responsabilidade detida. Quando olhamos para o lado, encontramos esses líderes? Quem nos fala quando caímos, quem nos alerta para a direção a seguir, quem move as montanhas que para nós são atiradas? Numa Europa tão confusa, escolhemos para líderes os que gritam mais, os que berram mais alto, os que manipulam melhor, os prometedores e os controladores? No final, assim como os ditadores se eternizam no poder, os líderes veem-se cem anos depois de desaparecem (como recordado por Marco Aurélio). Porque enquanto os ditadores envelhecem o (e no) poder, os líderes desaparecidos ainda movem gerações, economias e nações.

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