No último aniversário de Aljubarrota, dei por mim a recordar
algumas lições deste episódio fundador do espírito de Avis. Em primeiro lugar,
Portugal aliou-se a uma nação emergente (então a insignificante
Inglaterra no xadrez europeu, e dividida por lutas fratricidas). Em segundo
lugar, o papel dos líderes de Aljubarrota foi crucial para animar um povo
reticente contra uma aristocracia a lutar por Castela. Por último, o papel dos
cronistas que nos legaram Aljubarrota - o quadro belíssimo e inspirador pintado
por Fernão Lopes fez de Aljubarrota um momento bíblico para os portugueses (e
até para os ingleses), ainda que a revisão histórica mostre que nela entraram
também a inépcia/bicefalismo das lideranças franco-castelhanas, um pouco de
sorte à mistura para o lado português e um fator que então unia (emocionalmente)
as lideranças portuguesas a um povo também emergente: o fervor católico-romano
contra o partido de Avinhão assumido por Castelo e pelo Delfim. Resumindo, se
Aljubarrota nos pode ensinar? Pode e muito. E as lições têm 3 palavras-síntese:
Co-Operação, Alianças Estratégicas e Liderança.
Falemos delas e como as mesmas
se aplicam às nossas economias e às nossas regiões.
Cooperação recorda-nos que
vivemos em sociedade. Se Sartre recordava que “O inferno são os Outros”,
Aristóteles há mais de 2300 anos afirmava que tudo o que é humano é social. As
nossas regiões precisam dos outros espaços para o seu desenvolvimento – assim
como esses espaços (quer na faixa litoral quer no remanescente da geografia
europeia) precisam do nosso valor. Se a perda sistemática de rendimentos, a
‘balança de capitais regional’ cronicamente deficitária ou a ameaça latente de
desvalorização do património localizado são ameaças constantes, já por sua vez
o sentido de Cooperação deve levar-nos a fazer dos Turistas Investidores, dos
Passageiros das nossas linhas coproprietários dos nossos Espaços e dos nossos
Emigrantes Embaixadores.
Alianças Estratégicas são o
passo seguinte numa dinâmica territorial integrada que infelizmente não existe
no país das regiões e na economia das nossas regiões. Uma Aliança Estratégica é
como uma Sé/Sede que marca uma Aliança entre os agentes. Uma aliança –
simbolizada pelas anelares – perene, simbolizada pelo ouro. Uma Aliança
quebradiça, de pechisbeque eleitoralista, que não sai do papel ou dos beberetes
e dos croquetes não é uma Aliança – é um exercício insultuoso para o intelecto.
Infelizmente, fazem-se Alianças assim, desvirtuando aquelas que deveriam
existir entre Empresários, Municípios, Agências de Investimento, Promotores de
Projetos e Dinamizadores de Emprego. Criam-se manadas de elefantes brancos onde
outrora eram os Parques Industriais, os Parques Tecnológicos, os Parques de
merendas eleitorais e de vaidades pessoais de quem se alimenta do contentamento
de mediania.
Finalmente, a Liderança. A
Liderança – ainda que seja um conceito abusado na Política – não é exclusiva do
ciclo político. O Líder é-o também na Oposição. Mas é-o também na Ciência, na
Cidadania, no Civismo, na Cultura, na Diplomacia, e na Memória. O Líder não é
um Príncipe Perfeito, conceito de modas, aliás. Mas o Líder – mais importante
que o cidadão que assume a Liderança – é a força que esse Cidadão/essa Cidadã
transmitem na humildade do gesto diário, na qualidade da ação sem exigir o
poder enquanto não se esgota o potencial da responsabilidade detida. Quando
olhamos para o lado, encontramos esses líderes? Quem nos fala quando caímos,
quem nos alerta para a direção a seguir, quem move as montanhas que para nós
são atiradas? Numa Europa tão confusa, escolhemos para líderes os que gritam
mais, os que berram mais alto, os que manipulam melhor, os prometedores e os
controladores? No final, assim como os ditadores se eternizam no poder, os
líderes veem-se cem anos depois de desaparecem (como recordado por Marco
Aurélio). Porque enquanto os ditadores envelhecem o (e no) poder, os líderes
desaparecidos ainda movem gerações, economias e nações.
Sem comentários:
Enviar um comentário