Recentemente, a tese de Doutoramento
de um político português, ultimamente eleito para a Assembleia da República,
originou alguma celeuma no espaço de opinião pública. Descobriram-se lá
conclusões que assim retiradas parecem contrariar o ideário (divulgado) de
suporte da força política do referido deputado. Ainda que tal exercício seja
inócuo para os fins que eventualmente se almejavam – pois uma “tese de
Doutoramento” – ainda mais em Ciências Sociais – é um reflexo contingente como
qualquer produto científico, o que gostaria de partilhar com os meus leitores
agora prende-se com duas dimensões principais – a importância política das
Teses de Doutoramento e o elemento de continuidade do argumentário da tese com
a convicção do Autor.
Na primeira dimensão – a importância
política – não deixa de ser curiosa a valorização que os Políticos dão para
serem Doutores e a pressa que a Comunicação Social empresta para procurar
fontes de plágio, lapsos metodológicos, conclusões enviesadas ou resultados
forjados no referido documento. Em primeiro lugar, não só os Políticos como
toda a Sociedade deveria valorizar qualquer Tese de Doutoramento, reflexo de
anos de dedicação, frustrações, maturidades sobre-humanas, exigências exógenas
tantas vezes incompreensíveis, expetativas alimentadas e tantas vezes
desrespeitadas, sacrifícios monetários e energéticos – para lá da hecatombe
intelectual – que culminam na defesa pública, na aprovação, no depósito da tese
e na sua disponibilização e derivação (em Artigos ou Livros). Como em qualquer
espaço de ‘élites’, também depois as Teses são ‘rankeadas’ em função do potencial
concretizado de publicações indexadas, da projeção dos Orientadores, da
qualidade da Universidade, etc etc Mas, de sobremaneira, a hipervalorização
dada pelos Políticos a este elemento prende-se com uma colagem tradicional que –
sobretudo na cultura nórdica-europeia associa os mais educados aos mais
íntegros. Logo, um cidadão doutorado será aprioristicamente um cidadão mais
íntegro e um político doutorado terá uma sobrecapa de integridade. Mas mais do
que a Tese de Doutoramento de um sapateiro ou de um pedreiro (que as há, sem
pasmo saliente-se – para não falar das muitas Teses de Doutoramento de
desempregados e infelizmente como recentemente um estudo norte-americano provou
– inclusive de sem-abrigo…) a Tese de Doutoramento de um Político é muito mais
filtrada pelos ‘SafeAssigns’ mediáticos do que a Crítica da Razão Pura ou as
entrevistas do Sérgio Conceição. Para lá de pressões dos seus inimigos
políticos que junto dele se sentam na mesma bancada partidária, os órgãos de
Comunicação Social parecem interessados em encontrar aquilo que à partida deveria
ter sido encontrado no Júri que aprovou o cidadão como Doutor – máculas de
plágio, transcrições mal-feitas, viés metodológico, dados forjados, etc etc
Gosto por trazer à mediania o
petulante? Gosto por fazer-se justiça que não foi feita no tribunal académico?
Gosto por ridicularizar? Obviamente, como todos sabemos em política, ‘viúva rica
sózinha não fica’ e após a queda dos políticos plagiadores, forjadores, ou encomendadores
de teses os verdadeiros interessados tendem a aquecer-lhes os lugares na
tribuna.
A segunda dimensão – a continuidade
do argumentário – é talvez a mais ingénua destas duas dimensões. Fraco é o
cientista que passados cinco anos do Doutoramento não tem desejo de repetir,
refazer, ou contrariar todas ou boa parte daquelas conclusões alçadas na juventude
da sua investigação. Não é preciso ser um vira-casacas político mas é preciso
ser racional. Metodológico. Crítico. A Ciência não é Fé, logo não é Dogmática.
No entanto, nem sempre os Cientistas viram para o melhor lado. Mas uma coisa
boa que eles – a maioria deles - têm, é que reconhecem mais depressa – e sem
tanto alarido - os erros. Mais depressa
do que a maioria dos cidadãos. E obviamente do que a maioria dos concidadãos
Políticos.
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