Paulo Reis Mourão
(Professor do
Departamento de Economia da Universidade do Minho)
O SCVR celebrou 100 anos!
Parabéns! Um clube celebrar 100 anos é o reflexo do somatório de muitos dias
dedicados e noites mal-dormidas de muitas pessoas – desde o ato fundador até
aos dias de hoje.
A grandeza de um clube como o
Bila vê-se na medida em que é muito difícil escolher-se alguém da região
(residente ou não em Vila Real) e essa pessoa não ter tido um contato mais ou
menos próximo com o clube, um contato mais ou menos apaixonado, um contato mais
ou menos intenso. Ou escolher-se alguém e esse alguém não ter uma mão-cheia de
histórias (ou uma editora repleta de histórias) envolvendo o clube, sobretudo o
principal património do clube – as pessoas.
A grandeza do clube mais antigo
da região vê-se em muitas dimensões. Em primeiro lugar, uma instituição
associativa sobreviver 100 anos é, academicamente falando, só possível pelo
triângulo da sustentabilidade – sustentabilidade da massa associativa e da sua
renovação, sustentabilidade dos ‘stakeholders’ (isto é, os que beneficiam
diretamente e indiretamente com a ação do clube) e sustentabilidade
institucional (desde a presença de fluxos financeiros que têm garantido a
sobrevivência do clube até ao relacionamento institucional, nacional e
internacional).
100 anos representam milhares de
dias somados e multiplicados pelos milhares de sócios, defuntos ou militantes,
com quotas em dias ou quotas em liquidação. Cada sócio do Bila, povoando os
encontros das diversas modalidades desde os santuários do Calvário ou do Monte
da Forca até os demais recintos espalhados pelo mundo, é um sócio único. Mulher
ou Homem, do Marão ou do Alvão, da Bila ou da região, Menino da Bila ou da
Guia, sem idade. Conhece o vernáculo mas sabe escolher as palavras e os
momentos. Músculo tenso, garganta aflita. Lágrima no vidro dos olhos – às
vezes, cai dentro, noutras, cai fora dos mesmos olhos. Como bola na linha de
golo – às vezes, cai dentro, noutras cai fora. O sócio do Bila tem o xamanismo
de um celtibero mas o trágico dos mouriscos; o sócio do Bila vem daquela cepa
de infanções que Afonso Henriques sabia que só aqui encontraria e que mais
tarde Dom Pedro de Menezes levou para olhar sobranceiro o Atlas. O sócio do
Bila em qualquer lugar do mundo está em casa.
100 anos representam muitos
atletas. Milhares de atletas. Hoje também é o dia de todos eles – desde os que
descansam no Olimpo dos grandes exemplos de humanismo, desportivismo e
solidariedade – até os que hoje militam com essa camisola alvi-negra. Desde os
mais novos até aos mais velhos. Pode alguém carregar o sonho, a frustração, a
dor e a vitória de uma terra obstinada, resistente, saudada? Pode; esse alguém
é o jogador alvi-negro.
100 anos representam muitas
gerações de diretores, funcionários, colaboradores e voluntários. Hoje é o dia
de todos eles! 100 anos representam muitas palavras trocadas, passes bem e mal
feitos, bolas atrasadas ou adiantadas, mensagens perdidas, mensagens
alcançadas. 100 anos é um tributo também a todos eles – desde os que deram a
vida pelo Clube até àqueles a quem o Clube deu vida.
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