Um dos papeis mais importantes que se espera de cada um de
nós, como resposta social e económica, ao Covid-19, é sermos responsáveis, mas
também solidários. Responsáveis com os outros. Solidários com todos. Mantendo a
distância de segurança, tornando o nosso capital e a nossa poupança em
investimento e consumo hoje, evitando a caridade suplicada de amanhã ou o
imposto forçado depois de amanhã.
Obviamente, não basta consumir, nem é bom consumir por
impulso. Aumentar o consumo forçadamente não é suficiente, pois nem as
estruturas aquisidoras – nomeadamente, os consumidores – têm armários em casa
para comprar cinco fatos de uma vez ou quarenta quilos de arroz para a
quinzena. Numa escala macroeconómica, o consumo ajusta-se às capacidades de
usufruto. Esquecê-lo é perceber pouco de Economia.
Temos de recuperar a confiança, quer como consumidores, mas
sobretudo como investidores. E aí o Estado pode ajudar. O Estado, quando cria
canais ágeis para a canalização das Poupanças, transformando-as em
Investimento, ajuda mais do que quando aumenta a tributação ou quando ilude os
contribuintes com impostos disfarçados. Por exemplo, quando auxilia na criação
de Bancos Locais e Comunitários de Desenvolvimento, ajuda a que eu possa
intervir na participação social das empresas da minha região – um instrumento
que ainda não existe devidamente em Portugal, como refleti com o Wiliam
Retamiro, no artigo “Community development banks (CDB): a bibliometric analysis
of the first 2 decades of scientific production” publicado na prestigiada
Environment, Development and Sustainability.
Em vários debates sobre o assunto por estas semanas -onde
participei -referi isto claramente. Muitos negócios, muitas empresas, muitos
investidores precisam de liquidez, precisam de capital, precisam de ‘dinheiro
vivo’. Podem esperar pelos impostos que subirão e que nos apertarão de modo
especial no futuro próximo? Nós podemos esperá-lo mas muitos destes pequenos
comerciantes, investidores locais e microempresários não conseguirão chegar lá.
Portanto, receitas de antigamente não bastam. Mais Estado, neste caso, pode
conduzir a uma sovietização da economia e a transformarmos a nossa Economia
congelada numa Economia de Retro-Transição.
Por outra via, há instrumentos de financiamento alternativo
que pela sua natureza são sobretudo geridos por entidades de dimensão maior.
Refiro-me ao financiamento por obrigações, pelas quais não sou ‘sócio’ mas
torno-me credor do negócio. Quantas vezes, no passado recente, o Estado tem
ficado mais atrativo do que os depósitos bancários, debaixo das taxas de juro
negativas (onde, no final, pagamos para termos o dinheiro no banco…) Como
analisei com Joanna Stawska, no Applied Economics, no trabalho “Governments as
bankers - how European bonds have substituted bank deposits”, a subscrição de Obrigação
e Bilhetes do Tesouro tornou-se mais apetecível para muitos investidores
europeus que deslocaram para o Estado o dinheiro que tinham nos bancos. O mesmo
deveria acontecer, com a possibilidade dos negócios locais poderem entrar nos
mercados obrigacionistas, algo que já existiu em escala alargada – desde
entidades como confrarias religiosas chegando a clubes desportivos e
municípios. Enquanto esperamos, continuemos a lutar!
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