segunda-feira, 22 de junho de 2020

Lutar contra a Pandemia e pela Economia


Um dos papeis mais importantes que se espera de cada um de nós, como resposta social e económica, ao Covid-19, é sermos responsáveis, mas também solidários. Responsáveis com os outros. Solidários com todos. Mantendo a distância de segurança, tornando o nosso capital e a nossa poupança em investimento e consumo hoje, evitando a caridade suplicada de amanhã ou o imposto forçado depois de amanhã.
Obviamente, não basta consumir, nem é bom consumir por impulso. Aumentar o consumo forçadamente não é suficiente, pois nem as estruturas aquisidoras – nomeadamente, os consumidores – têm armários em casa para comprar cinco fatos de uma vez ou quarenta quilos de arroz para a quinzena. Numa escala macroeconómica, o consumo ajusta-se às capacidades de usufruto. Esquecê-lo é perceber pouco de Economia.
Temos de recuperar a confiança, quer como consumidores, mas sobretudo como investidores. E aí o Estado pode ajudar. O Estado, quando cria canais ágeis para a canalização das Poupanças, transformando-as em Investimento, ajuda mais do que quando aumenta a tributação ou quando ilude os contribuintes com impostos disfarçados. Por exemplo, quando auxilia na criação de Bancos Locais e Comunitários de Desenvolvimento, ajuda a que eu possa intervir na participação social das empresas da minha região – um instrumento que ainda não existe devidamente em Portugal, como refleti com o Wiliam Retamiro, no artigo “Community development banks (CDB): a bibliometric analysis of the first 2 decades of scientific production” publicado na prestigiada Environment,  Development and Sustainability.
Em vários debates sobre o assunto por estas semanas -onde participei -referi isto claramente. Muitos negócios, muitas empresas, muitos investidores precisam de liquidez, precisam de capital, precisam de ‘dinheiro vivo’. Podem esperar pelos impostos que subirão e que nos apertarão de modo especial no futuro próximo? Nós podemos esperá-lo mas muitos destes pequenos comerciantes, investidores locais e microempresários não conseguirão chegar lá. Portanto, receitas de antigamente não bastam. Mais Estado, neste caso, pode conduzir a uma sovietização da economia e a transformarmos a nossa Economia congelada numa Economia de Retro-Transição.
Por outra via, há instrumentos de financiamento alternativo que pela sua natureza são sobretudo geridos por entidades de dimensão maior. Refiro-me ao financiamento por obrigações, pelas quais não sou ‘sócio’ mas torno-me credor do negócio. Quantas vezes, no passado recente, o Estado tem ficado mais atrativo do que os depósitos bancários, debaixo das taxas de juro negativas (onde, no final, pagamos para termos o dinheiro no banco…) Como analisei com Joanna Stawska, no Applied Economics, no trabalho “Governments as bankers - how European bonds have substituted bank deposits”, a subscrição de Obrigação e Bilhetes do Tesouro tornou-se mais apetecível para muitos investidores europeus que deslocaram para o Estado o dinheiro que tinham nos bancos. O mesmo deveria acontecer, com a possibilidade dos negócios locais poderem entrar nos mercados obrigacionistas, algo que já existiu em escala alargada – desde entidades como confrarias religiosas chegando a clubes desportivos e municípios. Enquanto esperamos, continuemos a lutar!

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